quarta-feira, 15 de outubro de 2014

O PAPÁ DÁ

RAUL MINH´ALMA
DR
Certamente todos nós conhecemos um ou outro caso em que um certo jovem abdicou de estudar medicina, engenharia, advocacia ou outra área qualquer para se dedicar ao seu verdadeiro sonho. Isto de facto é muito bonito de se ouvir, mas é importante vasculhar um pouco o cerne da questão antes de elogiarmos até à morte a atitude “corajosa” destes sonhadores. 

É fácil sonhar quando se é parte de uma família avantajada, onde o dinheiro não é problema. É fácil sonhar quando sabemos que se cairmos vamos ter lá o papá e a mamã para nos dar tudo o que nos falta. A todos estes a quem nunca pesou a responsabilidade, não custa sonhar, e o que custar o papá paga, e o que faltar o papá dá. Nunca tiveram de trabalhar, nunca tiveram de se esforçar muito mais que um beicinho ou um simples pedido para terem o que queriam. Não devíamos, de todo, colocá-los no mesmo saco de todos aqueles que arriscaram verdadeiramente carreiras com mais garantias ou abdicaram de títulos mais “bem cotados socialmente”, para seguirem os seus sonhos, quando sabiam que, se de facto falhassem, o chão iria lembrá-los o quão dura é a vida. Mas a verdade é: se pode ter, porque não haveria de ter? Quem de nós trocaria o caminho fácil pelo difícil só para crescer enquanto pessoa, só para “saber o que é a vida”? Certamente alguém, mas muito pouca gente. Contudo, o que quero ressalvar é que a humildade não fica mal a ninguém, seja ele rico ou pobre. 

O mal não é ter as coisas dadas, é vangloriar-se de as ter, é exibi-las como troféus de um esforço que não saiu do seu corpo nem do seu bolso. O mal não está em mostrar, mas na vaidade com que se o faz. E depois dizem os pais: “eles não dão valor ao que têm”. Queridos papás, vou contar-vos um segredo, os vossos filhos dão o valor às coisas que têm, equivalente ao esforço que fizeram para as conseguirem. 

Um dia, quando se acabarem as nuvens de algodão, quando os bolsos já não forem tão fundos, quando as pedras começarem a aparecer no caminho e quando a “papinha” já não estiver toda feita, é que muitos olhos irão abrir-se e ver o mundo como deveria ser visto. Mas até lá, desfrutem do iPhone que o vosso beicinho conquistou.

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