sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

CHEGAR, VER E FAZER

GABRIEL VILAS BOAS
Ontem, enquanto esperava pelo tradicional almoço de Natal familiar, tropecei o olhar numa orgulhosa reportagem do JN sobre dez histórias da solidariedade que o jornal patrocinou ao longo de 2014. Fiquei surpreendido e feliz com aquilo que li. 

Cada uma daquelas histórias pareceu-me exemplar, pois ilustra aquilo que, no meu entender, deve ser a solidariedade. A fragilidade momentânea de alguém convocou os sentimentos mais nobres do jornalista, que aproveita a posição privilegiada que desfruta na sociedade para chamar atenção para o caso. O jornal, os amigos, conhecidos ou simplesmente os leitores “mexeram-se” e a situação alterou-se!

Um pormenor significativo nestas histórias de solidariedade foi o facto delas se terem estendido ao longo do ano e não se terem circunscrito à altura do Natal. Sempre achei que a solidariedade não tem hora nem data marcada no calendário. Ela deve existir sempre que necessária, o que, na maior parte dos casos, significa que se deve estender pelos meses anónimos dos ano. 

Para além do óbvio agradecimento das pessoas, alvo desta solidariedade mediática, retive o esforço que todas fizeram para não defraudar as expectativas que nelas depositaram quem os ajudou. Cada um, à sua maneira, procurou e conseguiu melhorar a sua situação, o que encheu de satisfação quem patrocinou esta segunda oportunidade. 

Estes finais felizes são muito importantes porque incentivam os mais céticos a ultrapassarem a barreira do egoísmo e da desconfiança, ao mesmo tempo que animam todos aqueles que fazem da solidariedade uma atividade corrente das ações.

Deixei para o fim a referência ao Jornal de Notícias, o verdadeiro dínamo destas ações de solidariedade. Um jornal também deve servir para isto. Fico muito satisfeito que o JN tenha organizado estas campanhas de solidariedade. Um jornal vende-nos diariamente histórias muito tristes, onde a miséria humana está quase sempre presente. Por vezes, fá-lo com indecoroso aproveitamento mediático da dor e desgraça alheias, todavia, com este gesto, o JN mostrou que a moral social que nos tenta inculcar não é apenas retórica natalícia. O jornal portuense usou o seu poder mediático, social e económico para nos dar a mais simples das lições: a solidariedade não se diz, faz-se.

Espero que o JN continue com estas ações solidárias; que as publicite para as ampliar e não para se vangloriar. A glória está em minorar o sofrimento alheio, permitindo que rapidamente aqueles a quem ajudámos não precisem mais do nosso apoio. 

Nos próximos meses continuaremos, infelizmente, a encontrar motivos para demonstrar a nossa solidariedade. Era bonito que alguns de nós, daqui por um ano, tivessem ajudado a escrever um final de feliz a algumas histórias dramáticas que nem sequer vêm no jornal.

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