quarta-feira, 18 de março de 2015

GODSPELL

PAULO SANTOS SILVA 
O tema da crónica de hoje, diz respeito a um musical da autoria de Stephen Schwartz e John-Micahel Tebelak, apresentado pela primeira vez na Brodway em 1971. A estrutura do musical é a de uma série de parábolas, retiradas principalmente do Evangelho Segundo São Mateus. Estas mesmas parábolas são, entretanto, intercaladas com uma variedade de músicas modernas inspiradas em antigos hinos cristãos. Também a Paixão de Cristo, é tratada no final do espetáculo. A ideia deste musical, surgiu de um projeto realizado por estudantes universitários da Carnegie Mellon University, que depois se tornou numa produção da Brodway, tendo alcançado um grande sucesso. A ideia deste musical foi, também, de servir como um contraponto ao musical Hair, pois a mensagem que pretende transmitir enfatiza o legado do cristianismo e principalmente da personagem de Jesus de Nazaré, como o filho de Deus e Salvador da humanidade. Um dos autores, Stephen Schwartz, embora possa parecer um ilustre desconhecido, é uma das figuras maiores do teatro musical sendo que é um dos três compositores a ter três espetáculos com mais de 1500 apresentações na Brodway. Na sua galeria de prémios, constam três Grammys, seis Tony’s e três Oscares da Academia (dois com a banda sonora original de Pocahontas e um com a canção When You Believe, do filme O Príncipe do Egipto).

Várias versões deste musical, têm sido produzidas em vários países do mundo, entre os quais Portugal. A última, esteve em cena por estes dias, no Teatro Tivoli BBVA, em Lisboa. No elenco, destacava-se à partida o nome de Mia Rose, sendo que os restantes seriam pouco conhecidos da generalidade do público. Visto o espetáculo, é de inteira justiça realçar a tremenda qualidade do mesmo. Excelentes atores (também cantores e bailarinos), músicos de grande qualidade e uma produção (onde se inclui o trabalho de encenação, cenografia e guarda-roupa) exemplar, transformam este espetáculo num dos melhores que vi recentemente e que recomendaria vivamente a qualquer pessoa. Não terá sido, aliás, por acaso que na estreia estiveram presentes o Cardeal Patriarca de Lisboa, D. Manuel Clemente e o Núncio Apostólico do Vaticano em Portugal, D. Rino Passigato. 

Em conversa com o produtor do espetáculo, a pergunta sacramental:

- Para quando o Godspell no Porto?

A resposta foi célere. 

- Não vai ser possível porque não há nenhum teatro disponível. Vamos a Aveiro, em princípio Braga, talvez Guimarães, mas o Porto não vai ser possível porque a Casa da Música é muito cara, o Coliseu é uma sala demasiado grande e cara, o Teatro S. João é Teatro Nacional e o Rivoli e o Teatro do Campo Alegre, que são Municipais, estão fechados a qualquer tipo de produção externa.

Confesso que me encontro, desde domingo, num misto de revolta e estupefação. Que país é este em que alguns municípios fecham os seus equipamentos a quem deles pretende usufruir, colocando nos seus palcos espetáculos de elevada qualidade? Importa referir que a cedência destes teatros nunca foi gratuita, pelo que a argumentação de que os seus custos com pessoal e equipamento não eram cobertos pelos utilizadores cai por terra. Numa investigação rápida, descobrimos que o Teatro Municipal do Porto, dispõe de um Diretor de Programação escolhido em concurso público (polémico, diga-se em abono da verdade…). Na teoria, o Teatro Municipal do Porto funcionará através de dois polos - Rivoli e Campo Alegre - passando a apostar em coproduções e assumindo-se como "uma ferramenta de trabalho dos artistas e companhias", afirmou Tiago Guedes, o programador.

O Rivoli, equipamento central da cidade, estará mais voltado para a dança contemporânea e outras expressões artísticas como circo e marionetas, enquanto o Teatro do Campo Alegre será "um laboratório criativo e uma plataforma rotativa para as companhias da cidade". 

Na prática e conversando com vários agentes culturais, que regularmente levavam os seus espetáculos ao palco destes dois teatros, a verdade é nenhum destes dois espaços está disponível para outras produções que não sejam as próprias ou ligadas à programação própria. Lamentável para aquela que é a segunda cidade do país e que sempre foi uma cidade de cultura. Felizmente que outros municípios não lhe têm seguido o exemplo!

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