sexta-feira, 8 de maio de 2015

PEREGRINAR EM SEGURANÇA

GABRIEL VILAS BOAS 
A semana que agora termina começou sob o signo da morte nas estradas portuguesas, quando um grupo de
peregrinos oriundos de Mortágua com destino a Fátima foi mortalmente colhido por um carro desgovernado. 

Além dos normais lamentos, do luto das famílias e da medida de coação imposta ao condutor que provocou o terrível acidente, esperava que o caso provocasse o debate sobre a segurança (ou a falta dela) nas peregrinações a Fátima. 

Depois de termos ultrapassado o tempo em que se discutia se estas se justificavam ou não, se a Igreja as devia apoiar ou desaconselhar, acho que o debate agora se deve centrar apenas nas condições de segurança que os peregrinos não têm durante as suas peregrinações de dezenas (nalguns casos centenas) de quilómetros até ao santuário mariano. E, no meu entender, acho que essas condições são muito precárias. Muitos peregrinos fazem parte do percurso em vias rápidas ou estradas com muito movimento. O acompanhamento policial é diminuto e os direitos dos peões são muitas vezes desrespeitados. 

Daqui a dois anos completar-se-á um século sobre as primeiras aparições em Fátima. O santuário leiriense é um dos santuários marianos mais importantes do mundo e a ele afluem milhares de peregrinos todos os anos que fazem questão de afirmar a sua fé também através da peregrinação. 

Penso que autoridades eclesiásticas deviam trabalhar em conjunto com as autoridades civis no sentido de criar uma espécie de Caminho para Fátima, um pouco à imagem do que acontece com o Caminho para Santiago, que permitisse aos peregrinos fazer a sua peregrinação de uma maneira bem mais segura. 

Bem sei que hoje as peregrinações a Fátima são realizados de um modo mais organizado, que existem equipas de apoio médico e logístico, que os peregrinos revelam uma maior maturidade na gestão do seu esforço e planeiam racionalmente a sua peregrinação, mas o problema da segurança rodoviária é um pormaior que necessita de uma intervenção concertada, algum investimento e, provavelmente, decisões administrativas de ordenamento do território. 

Os peregrinos de Fátima são uma realidade histórica, sociológica, cultural e religiosa. Devem ser respeitados e apoiados, sejamos ou não adeptos das peregrinações, crentes ou ateus. Não me parece que seja uma questão menor, pois registam-se mortes de tempos a tempos.

Acidentes como o do passado domingo podem acontecer novamente, mas sempre achei que os azares deviam ser tão raros como os milagres, com uma pequena diferença: precisamos duma intervenção divina para obter um milagre enquanto para evitar muitos azares apenas precisamos da ação humana. 

A fé de muitos portugueses também se expressa através das peregrinações até ao santuário de Fátima. Uma sociedade adulta é também aquela que sabe respeitar a dimensão religiosa de cada um e cria as condições para que a fé se manifeste em segurança.

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