sexta-feira, 25 de setembro de 2015

A RELAÇÃO COM O DINHEIRO

GABRIEL VILAS BOAS
Normalmente, o dinheiro não sobra para a grande maioria das pessoas, até porque são muito mais aquelas que têm dívidas que dinheiro extra. No entanto, ele existe e em grande quantidade, nalguns casos, inimaginável.

O que fazem as pessoas quando o dinheiro lhes passou a sobrar? Consomem mais ou dedicam-se ao jogo ou satisfazem caprichos ou…. As hipóteses são variadas, mas raramente incluem projetos de solidariedade, reorganização económica ou investimento em qualquer projeto profissional. Claro que haverá sempre louváveis exceções, mas a realidade tem, muitas vezes, pouco de bonito.

Há dias decorreram campanhas de recolha de vestuário, para ajudar os milhares de refugiados que invadem a europa em busca de proteção. Que embalámos nós para seguir viagem? Os casacos, as calças, as botas, os vestidos, que estavam arrumados a um canto do armário, à espera de um pouco de coragem dos donos para o pôr fora. Devem ter sido muito raros os casos de alguém que pegou em 400 ou 600 euros e foi a um pronto-a-vestir adquirir peças novas para mandar no comboio da solidariedade para os campos de refugiados.

Todavia, todos os dias, centenas de portugueses apostam milhares de euros nas máquinas dos casinos da Póvoa ou de Espinho. Vários compatriotas jogam avultadas somas de dinheiro em sites de apostas internacionais. Conheço casos de alguns jogadores que emigraram para a República Checa para puderem continuar a jogar póquer sem que o fisco lhes pergunte constantemente quanto andam a ganhar mensalmente.

Ter dinheiro e não saber o que lhe fazer cria, em alguns, sensações de tédio, noutros, adrenalina pura, em quase nenhuns surgem sentimentos de partilha e solidariedade.

Incomoda-nos bem mais que os dois euros dados a um pedinte sejam usados para comprar um bolo e uma coca-cola que um qualquer jogador torre dois mil euros, numa máquina de sorte e azar, no Casino de Chaves.

A culpa não é do dinheiro, obviamente. Este não passa de um pequeno pedaço de papel, com o valor que convencionámos que tivesse. A questão é da nossa relação com ele e com o poder que ele significa. Acho que, muitas vezes, o dinheiro é o espelho fiel da maneira como nos colocamos no mundo: totalmente centrados em nós e na satisfação dos nossos pequenos apetites e absolutamente alheios aos gritos desesperados daqueles que nos rodeiam.

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