quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

PODERIA SER NATAL...

HELDER BARROS
Estamos a chegar a uma época onde se abordam muito os conceitos ligados ao amor, amizade, harmonia, paz, união, família… mas, a verdade fica sempre bem, não tem tempo, nem hora marcada, o seu valor reside na sua perenidade, na sua constância, consistência e verosimilhança.

No inicio deste século, em plena euforia dos SMS e das redes sociais, não faltaram putativos amigos que nos enviavam mensagens marcadas por esses valores fraternalistas e de apelo aos mais altos valores humanistas. Chegou a ser de tal forma impactante o fenómeno, que era de comércio que se tratava, mormente, para as operadoras de telecomunicações, o fluxo de mensagens chegava a atingir valores de entropia críticos do sistema de telecomunicações.

Vem isto a propósito acerca de um trabalho que realizei com a minha direção de turma, décimo ano, sobre os vários tipos de grupos de pessoas a quem consideramos amigos. Depois de uma rápida abordagem ao tema com os alunos, rapidamente, chegamos à conclusão que para os estes há quatro tipos de grupos de amigos: amigos verdadeiros (manos); amigos na família; amigos na escola/turma e amigos no facebook. Amigos do facebook, sempre na ordem das centenas, que englobam: conhecidos, desconhecidos, amigos, familiares, colegas, etc.. Amigos verdadeiros que vão das unidades, até às dezenas, no máximo; amigos da turma que vão da meia dúzia à dúzia, num universo de três dezenas. Amigos na família que, pasme-se, vão das unidades, quando muito até às dezenas.

Tudo isto vem desconstruir o tradicional conceito de família, cujas virtudes tanto se aventam nesta quadra de hipocrisia reinante. Os elementos das famílias já não são amigos entre si, não se constituindo os nossos maiores amigos. Um simples processo de herança destrói a harmonia duma família, os filhos não se entendem como os pais, os pais abandonam os avós em hospitais…os irmãos não se entendem, cada um tenta sobreviver por si, quais projetos individuais de vida.

Cumprimenta-se o vizinho entoando um “bom dia”, “boa tarde”, ou “boa noite”, quase maquinalmente, sem o olhar nos olhos, num gesto de indiferença pior que, a omissão da saudação. Nos prédios, não se conhecem os vizinhos da porta da frente, nas moradias unifamiliares, autênticos fortes vigiados da nossa individualidade, fechamo-nos todos na nossa muito prezada intimidade, nada de tempo para os outros, nada de partilhas…

E depois há aqueles tipos de seres humanos que passam ou que passaram pela nossa vida, pouco nos acrescentando no plano pessoal, aquele que releva as relações pessoais e do Ser. Pessoas dissimuladas que, num dado período da nossa vida, se aproximam como vampiros e nos sugam, não raras vezes, o melhor de nós; pormenores roubados das nossas partilhas, mas que não se desenvolveram mais com a mesma, foram truncadas. No processo de troca de ideias, afetos, bens terrenos ou obras; só nos subtraíram… oportunamente, de forma manhosa e ardilosa, mas sempre com a veste de anjos, de melhores amigos, como aqueles que eram os tais, com que poderíamos contar sempre, para a eternidade e em tudo.

Pode-se considerar injusto, mas uma coisa é certa: a vida corre quase sempre bem para estes vermes, cuja espinha dorsal é muito pouco desenvolvida… trata-se de seres rasteiros que escavam cada vez mais fundo, no sentido de sugarem cada vez mais, ao substrato da nossa existência.

Quais lobos com pele de cordeiro, usam sempre uma máscara de simpatia, simulam falsos consensos, procuram com a sua postura dissimulada de pacificadores e que congregam as ideias das diferentes pessoas, tentando sempre, no entanto, fazer com que a sua vontade prevaleça, sem que os outros se apercebam do falso engodo; muitas vezes servem-nos as suas frases até em bandejas de prata.

Numa sociedade em que a Família e a fraternidade passaram indiscutivelmente de moda, quem se poderá espantar com um Mundo, em que aderir a seitas religiosas e a grupos de terroristas, mesmo que sejam extremistas; aparece inopinadamente um desígnio de vida em nome de Deus, matar em nome de Dele, eis a grande contradição destes novos tempos, em que sobrevivemos na nossa individualidade bem vincada, pensando que estes perigos não nos atingem, pois vivemos no nosso refugio, sozinhos em multidões de anónimos, criando monstros que rezam várias vezes ao dia, quais seres medievos.

Quem lida com jovens diariamente, não deverá ficar preocupado com o nível de alienamento sobre o mundo que os rodeia, a que estes se votam?... Num registo bem próximo da realidade virtual, permanecem imersos em jogos online, muito realistas, como frequentemente referem, ou em redes sociais em que não existe socialização, ou assistindo a programas de televisão em que se simulam vidas reais, mas que são virtuais… o que poderemos esperar de jovens que passam a vida a matar de forma virtual, cujo grande objetivo dos seus dias, é passar de nível em jogos virtuais, individualistas e violentos, sozinhos nos seus quartos, mas em rede, imersos em grupos de pessoas tão sós como eles.

Não é de admirar que alguns jovens se juntem ao estado islâmico, pois quando alguém não é enformado com os valores e vivências essenciais a uma sociedade equilibrada, só poderá resultar em asneira. Mas a culpa não poderá ser assacada apenas à juventude, seria cobardia da nossa parte, uma autêntica fuga para a frente: as novas gerações são fruto das anteriores…

Mas estamos no Natal, uma quadra em que toda a gente vai encher os centros comerciais dos homens, a facturação vai ser boa. Recorde-se que John Lennon , o tal que se considerava mais famoso que Jesus Cristo, escreveu um dia numa canção, das muitas e de grande qualidade que nos legou: “So this is Christmas/And what have you done?/Another year over/And a new one just begun”. Também ele neste verso começava a duvidar do Natal dos Homens…

Mas façamos de conta, Bom Natal para todos, vampiros incluídos, outro Natal vai passar, as guerras vão continuar, a hipocrisia reinante vai-se fortalecer, serão vendidos milhares de produtos e ficará por se realizar, mais uma vez, o verdadeiro Natal, festa do nascimento daquele Menino numa manjedoura… e sim, também não acredito nessa figura bizarra, o Pai Natal, um homem vestido de vermelho com umas barbas brancas de algodão, inventado pela Coca-Cola, ou pela Disney; quero acreditar cada vez mais em Jesus! Bom Natal aos Homens de boa vontade e aos outros também… mas com menos hipocrisia, sem máscaras que não é Carnaval.

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