sexta-feira, 15 de janeiro de 2016

AFERIR OU EXAMINAR? DOIS CONCEITOS POLÍTICOS DE EDUCAÇÃO

GABRIEL VILAS BOAS
Como seria de esperar (e também com toda a legitimidade) o governo socialista derrubou a política educativa do último governo, terminando com os exames do 4.º e 6.º anos, a Matemática e Português; suspendendo a implementação da Prova de Inglês no 9.º ano; mantendo os exames do 9.ºano a Português e Matemática; não mexendo nos exames do Secundário (pudera, já que aí a controvérsia seria bem maior) e, novidade, introduzindo Provas de Aferição no 2.º, 5.º e 8º anos, cujas áreas a aferir serão rotativas. Para já, começam com Matemática e Português! Que falta de imaginação e… de coragem!

Alguns professores lamentam a 15.ª alteração no sistema de avaliação em dezasseis anos (também podiam ter lamentado a 14.ª, todavia eu não lembro…), mas a maioria não define claramente o que pensa sobre o sistema de avaliação em Portugal, preferindo criticar ou apoiar, porque gosta mais ou gosta menos, porque são políticas de esquerda ou de direita.

E logo aqui começa a minha discordância. A Educação de um povo não pode estar refém de ideologias políticas, socais ou culturais. A política educativa e o sistema de avaliação devem ser pensados exclusivamente em função de um desenvolvimento educacional abrangente das crianças e jovens. A Educação não pode ser ideológica. Os governos deviam fazer gala disso e não sub-repticiamente tentar impor a sua mundividência.

Se pensam que a direita era muito rigorosa, porque examinava tudo e todos, obrigando os alunos a submeter-se a exames de Português e Matemática no 4.º, 6.º e 9.º anos, estão redondamente enganados. Nenhum aluno baixava o seu nível interno, mesmo que obtivesse nos exames um resultado inferior em 20% ao seu habitual. Isto é, um aluno de nível três tinha a sua aprovação garantida desde que obtivesse um resultado igual ou superior a 20%. Que dificuldade! Que exigência! Por outro lado, só mudaria a sua nota para nível quatro (no máximo) se obtivesse uma nota superior a 90%. Quantos conseguiram tal proeza? Pois… Mas há mais: um aluno de nível quatro jamais alcaçaria o nível cinco, mesmo que tirasse 100% no exame e jamais reprovaria, mesmo que tirasse 0%. E depois temos que assistir à conversa para embalar crianças de sempre: exigência para aqui, contra o facilitismo para acolá.

A isto acresce que a dita exigência não abrangia 80% das disciplinas do curriculum. Os professores e os alunos passavam nove anos nas escolas portuguesas a aprender História, Geografia, Inglês, Francês, Educação Visual, Físico-Química e nem uma linha tinham de “provar” sobre o que aprenderam. No entanto, a direita portuguesa era (é) duríssima e competentíssima a avaliar. Rigor, exigência, blá,blá, blá…
E o que contrapõe a esquerda? Não vamos examinar, vamos aferir! E o que querem começar por aferir? Aquilo que nunca foi aferido, para ver em que passo se encontram os alunos? Não, nada disso! Querem aferir aquilo que já fora examinado e voltará a ser. Quanto às Expressões, à História, à Geografia, ao Francês e ao Inglês, não há pressa para saber o que sabem os alunos portugueses?

Quem só quer aferir para corrigir possíveis desequilíbrios não introduz aferições à pressa, só para deixar a sua marca desde início. E se quer aferir, afere tudo. Com tempo, com justiça e em atenção aos diversos tipos de alunos que as escolas públicas portuguesas têm. Sim, porque as escolas públicas portuguesas têm alunos do curriculum normal, alunos com curriculum específico individual, alunos com adequações curriculares. Não estão interessados nesses?

Quanto a mim, entre exames e provas de aferição, prefiro as provas de aferição. Já que as provas contam para muito pouco e para poucos, o melhor é deixar de fingir que contam para alguma coisa. Todavia, querendo aferir que se afira tudo e todos, sem pressas, estruturando o sistema de avaliação a longo prazo e colocando o foco na qualidade daquilo que se ensina. Senão haverá professores com trinta e tal anos de carreira que nunca verão o seu trabalho aferido por ninguém. Entretanto produzir-se-ão novos programas, novas metas, novas metodologias para as suas disciplinas tendo por base um qualquer parecer. A Educação não é para parecer, é para ser.

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