domingo, 10 de abril de 2016

MARCELO: UNHA OU VERNIZ?

PAULO NETO 
Bem podia ter votado no porfioso Marcelo. Mas não o fiz, porque algo me arredou de lhe consignar a minha confiança. Talvez aquele excesso de mediatismo e anos a fio a servir de Sibila de Cumas. Talvez por um qualquer desconforto cromático. Não sei. Não interessa. Votei noutro candidato. Mais discreto, menos exuberante...

Muito pouco tempo volvido após a vitória e natural assunção de funções, Marcelo começa a surpreender pela positiva. Percebe-se também nitidamente que depois do seu antecessor, difícil seria fazer igual ou assemelhar-se no pior…

Com uma notável e milimétrica gestão coreográfica da sua figura, atuação e exposição/movimentação, parece estar sempre no lugar certo e a dizer o circunstancialmente conveniente e desejado. Deve ter estudado os comportamentos e a postura de Cavaco para, por antítese, nunca errar.

A sua descolagem de Passos Coelho e de um PSD empenhado em auto ridicularizar-se, evitou-lhe constrangimentos inúteis. Os amuos do líder laranja acrescidos de uma demarcação da sua família partidária parecem aproximá-lo ilusoriamente dos socialistas. Porém, é de crer que apenas busque um equilíbrio sem tensões acessórias e desnecessárias.

Talvez tenha buscado modelo em Barack Obama – pré-Guantánamo – e se empenhe, sem demasiado esforço, em ser um presidente popular, próximo dos cidadãos e perfeitamente capacitado para a flexibilidade da sua imagem. Até no pormenor… O Palácio de Belém até já tem o seu Boby ou talvez Laica... Para incluir o PAN? Porque há uma canídeofilia generalizada? Ou somente porque gosta de cães, sabendo-os fiéis como Argos, o de Ulisses, em Ítaca?

Certo é que tem estilo próprio e carisma, convidou para seus assessores personagens interessantes e parece empenhado em se assemelhar ao oposto do anterior inquilino.

De seu natural é fluido, descontraído e imprevisível. Cultiva a melíflua arte de agradar. É cortês (ou será cortesão?) e delicado.

Politicamente correto nas atitudes até agora tomadas, quase foi subitamente declarado inimigo público do centro-direita político português.

Será a sua aparente aproximação ao vigente governo de coligação uma ensaiada e cínica jogada de mestre, ou apenas um exemplo de elementar bom-senso?

De repente, Marcelo quase institucionalizou aquilo com que tão bem convive: o vedetismo. E a bem dizer, o Sr. Silva e a Dª Silvina gostam do estilo. Apreciam-no muito e já o olham como ao herói da telenovela de sábado, ou como ao Pai da Pátria, exaustos da orfandade de uma década.

De surpresa em surpresa, corremos o risco de nos despreconceituarmos das colaterais bizarrias esquerda / direita e de dar connosco a gostar do professor, ele, que por seu turno, parece gostar de todos os portugueses e apostado em desconstruir a ideia feita preconcebida (talvez fútil e ligeira), do mais do mesmo.

Esperamos que a postura e as atitudes não sejam mero cosmético efémero e que daqui a cinco anos estejamos arrependidos da forma afinal infundamentada como o encarámos na hora do sufrágio. 

Também já merecíamos ter um bom presidente, assim como um bom primeiro-ministro e até um governo que governasse por Portugal e pelos portugueses, e não contra o país e o seu povo.

De momento, mão atrás das costas, resta-nos fazer figas e pensar que merecemos, finalmente, ser bem tratados e estimados por quem elegemos, mesmo sem lhe havermos confiado o voto... O que é sempre óptima lição para quem tem a humildade de aprender.

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