quarta-feira, 25 de maio de 2016

MIXÓRDIA DE TEMÁTICAS - EM VERSÃO SÉRIA

PAULO SANTOS SILVA
Ponto prévio – peço desculpa ao Ricardo Araújo Pereira pela “usurpação” do título da crónica. Começo esta crónica, por dizer-lhe que já não me lembrava de um dia em que houvesse tantos assuntos interessantes e/ou importantes sobre os quais escrever. 

Poderia escrever sobre o Dia Internacional das Crianças Desaparecidas. 

Neste dia que hoje se comemora, é inevitável não nos lembrarmos da luta incansável e dolorosa que a mãe do Rui Pedro tem travado ao longo destes longos (passe a redundância…) 18 anos para saber o que verdadeiramente aconteceu ao seu filho. Se for vivo, terá hoje 29 anos. A justiça condenou o seu alegado raptor a cumprir uma pena de 3 anos de cadeia, decisão que viria a ser confirmada na última instância de recurso – o Tribunal Constitucional. No entanto, as perguntas continuam sem resposta. Onde está o Rui Pedro? O que aconteceu? Será que algum dia estas perguntas virão a ter resposta?

Poderia escrever sobre o movimento Defesa da Escola Ponto. 

Qual escola? A que foi perdendo alunos para as escolas privadas que surgiam como verdadeiros impérios ao seu lado? A que perdeu professores para o desemprego? A que separou pais e filhos quando alguns desses professores tiveram de concorrer para escolas a centenas de quilómetros de casa, para não perderem o seu vínculo laboral ou, pior do que isso, o seu emprego? A Escola, a verdadeira Escola, não é amarela. É amarela, é azul, é verde, é de todas as cores. Liberdade de escolha, sim. À “minha” custa, não. É que não sei se sabem, mas entre muitas outras coisas, ainda tenho dois Bancos para pagar… A propósito, diz-se que será hoje que a Deloitte entregará o estudo encomendado pelo Banco de Portugal, estudo esse que tinha como finalidade avaliar se a resolução do Banco Espírito Santo foi melhor para os credores do que a liquidação. A ver vamos as conclusões.

Poderia escrever sobre o desaparecimento de um dos mais marcantes sacerdotes da Igreja Católica que até hoje conheci – o Monsenhor Alexandrino Brochado. 

Natural da freguesia de S. Pedro da Raimonda (Paços de Ferreira) onde nasceu há 95 anos, foi ordenado presbítero em 1944. Foi secretário particular do Bispo do Porto D. Agostinho de Jesus e Sousa, entre 1943 e 1952. Após a nomeação do novo Bispo do Porto, o emblemático D. António Ferreira Gomes, foi-lhe confiada em 1953 a Reitoria da Capela das Almas, em plena Rua de Santa Catarina no coração da cidade do Porto. Ao longo desta caminhada marcante, lecionou a disciplina de Religião e Moral no Liceu Alexandre Herculano e presidiu à Caritas Diocesana do Porto. Homem de cultura, foi também escritor. De entre as várias obras que publicou, destacaria “O Porto e as suas Igrejas Azulejadas”, sem dúvida, uma obra de referência para os amantes desta arte tão portuguesa. Tive o privilégio de o conhecer e com ele privar, num dos momentos mais importantes da vida de uma pessoa – a adolescência e a juventude. Fui testemunha do seu espírito jovem, que teimava e resistia ao avançar da idade física. Não deixa de ser curioso, que só ao saber do seu desaparecimento, me tenha dado conta da idade que já tinha. Para mim, o Padre Brochado não envelhecia. Não fazia anos. Estava sempre lá, na “sua” Missa do Meio-dia, a disfrutar da música que o grupo de jovens Triângulo Verde lhe oferecia com tanto amor e paixão, aguardando por todos os que o queriam cumprimentar na Sacristia, no final. Recordações, são mais que muitas. As homílias, com citações do escritor francês Georges Bernanos, entre outros. A recorrente frase que tantas vezes fazia questão de recordar: “Quando vim para a Capelas das Almas, ela era conhecida por ser a igreja das teias de aranha, dos ratos e das beatas. Já consegui acabar com as teias de aranha e com os ratos…”. Pelo Bem que praticou, por aquilo que foi e que tanto nos marcou, pelo exemplo que sempre será como Homem de Igreja (e tantos poderiam aprender com ele!...), estou certo que mais dia, menos dia, será alvo de uma mais do que merecida homenagem por parte da cidade que o acolheu – a Mui Nobre Leal e Invicta, Cidade do Porto.

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