sexta-feira, 8 de julho de 2016

ENSINO PRÉ-ESCOLAR

JOÃO RAMOS 
Os estudos mais recentes sobre educação confirmam a existência de um enorme “gap” de conhecimentos entre as crianças com seis anos de famílias ricas e pobres, com especial destaque para áreas como a matemática e a leitura e interpretação de textos. Dois investigadores americanos descobriram resultados semelhantes, concluindo que as diferenças poderiam chegar a atingir o equivalente a um desvio padrão e que dificilmente seriam reduzidas no médio e longo prazo. Estas conclusões vêm reforçar a importância do ensino pré-primário, sobretudo se atendermos, ao facto, de em média, as crianças, entre os 3 e 5 anos, com pais ricos usufruírem de mais de 1300 horas de actividades de enriquecimento curricular, que os seus colegas de famílias pobres.

Nos anos 60/70, iniciaram-se estudos de comparação entre os alunos que frequentavam o ensino pré-escolar, e os restantes, concluindo-se que o primeiro grupo teria maior probabilidade de frequentar a universidade, beneficiar de salários mais elevados e menor propensão para adoptar comportamentos de risco, como o consumo de tabaco\drogas. Investigações mais recentes afinam pelo mesmo diapasão salientando que as crianças que frequentam o ensino pré-escolar possuem um retorno positivo entre os 7 e os 10%, na esperança média de vida, nos rendimentos, na redução da criminalidade, obesidade e outros problemas de saúde.

Em Portugal, o ensino pré-escolar é extremamente oneroso, para a generalidade das famílias, que muitas das vezes, não dispõem de recursos para colocar os seus filhos nestes locais. Além disso, existe uma tremenda falta de capacidade e de vagas, que agrava os problemas e exclui uma componente relevante das nossas crianças, de usufruírem de actividade extracurriculares e de desenvolvimento cognitivo.

Dados os ganhos evidentes de políticas mais inclusivas nesta área, seria importante empreender uma ampla reforma, que providenciasse o ensino pré-escolar universal, contribuindo a médio prazo para a redução das desigualdades e dos gastos públicos em programas de apoio e reabilitação social.

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