sexta-feira, 5 de agosto de 2016

EROTISMO

MANUEL DAMAS
Escrever sobre Erotismo parece ser tarefa fácil, principalmente numa época em que somos, permanentemente e nas mais variegadas situações, bombardeados pelas mais diversificadas mensagens, predominantemente áudio visuais, em que a erotização da Comunicação, principalmente em termos de Marketing e de Publicidade, se encontra hiper presente, senão de forma direta e explícita, no mínimo de modo sub liminar.

Convém, todavia, chamar à colação, no que aos media se refere, que o uso do Erotismo do Corpo tem vindo a agravar-se, de forma cada vez maior, mas com um forte pendor discriminatório, dado que o corpo feminino é muito mais usado do que o corpo masculino, tantas vezes até à exaustão o que configura, sem hesitações, um acto de discriminação, a sancionar.

Mas o motivo desta crónica é o Erotismo, “latu sensu”, conceito indissociável das Sexualidades e dos Afectos que se encontra, na prática, muito encostado e de forma ambígua, no que à separação dos conceitos se refere, à Sensualidade e, mais ainda, aqui já de forma perniciosa, à Pornografia.

É neste momento que convém fazer a pedagogia dos conceitos.

Efectivamente, o Erotismo não é sinónimo de pornografia, nem de nudez, nem de genitália visível. No sentido pedagógico das Sexualidades e dos Afectos o Erotismo é o muito, o tanto, o tudo, que permite e propicia o enriquecimento das relações psico afectivas, fazendo entrar em linha de conta a libido e o sentido onírico das sensações e das emoções.

Se fácil será identificar as imagens, os cheiros, os sons caracteristicamente tipificados como eróticos, difícil será detectar toda uma plêiade de gestualidades, de atitudes e de cenários, realmente ambíguos e que, consoante cada um de nós, se podem apresentar com potencial de erotização. Refiro-me a todas as situações que fazem a ponte com experiências passadas e que se encontram, como tal, imbuídas de forte conotação erótica.

Desta forma o Erotismo pode estar presente, até, num olhar que desliza sobre um corpo, num toque de pele que, subitamente, se transmuta em gestualidade carregada de significantes e de significados, podendo, inclusive, atingir e ultrapassar a barreira delimitada pelo desejo.

Acresce, ainda, que o Erotismo não tem que estar inevitável e obrigatoriamente ligado a uma estética corporal perfeita. Aqui o Belo é, nitidamente, ambíguo…

Muitas e tantas vezes bastam o olhar, o toque, a imaginação do corpo, principalmente se for o amado ou então o desejado, para que tal situação fique erotizada, ainda que os objectos em causa, ambivalentemente e na maioria das vezes, não cumpram os estereotipos do corpo esteticamente perfeito e, como tal, justificadamente desejável.

Basta, tão só, ser aquele corpo, ser O CORPO!

E aí, inquestionavelmente, abre-se uma enorme janela de multifacetados cenários e probabilidades que, jogados com destreza e perspicácia, adquirem uma valoração extraordinariamente potenciada, no que ao Erotismo concerne.

Se um corpo não tem que ser esteticamente perfeito para ser erotizável, mais estranho e utópico poderá parecer quando, por exemplo, se trata de um corpo que não se enquadra nas faixas etárias a que o português comum considera aceitável consignar a possibilidade de existência de valoração erótica.

Refiro-me, obviamente, ao Erotismo que pode e deve estar presente nas relações desenvolvidas pelos Mais Velhos, aqui referenciados em maiúsculas, sem falsos pudores, mas com orgulho, até porque são Mais Velhos, tão só e apenas por terem mais idade. É que nesses, o Erotismo também direito, legítimo, a estar presente. Até porque, convém acrescentar, os Mais Velhos, porque também com mais idade e, como tal, com mais experiência, possuem, muitas vezes, um muito maior leque e muito mais multifacetadas estratégias, no que à capacidade de erotização das situações e dos actos se refere.

Mas podemos, também, referir a erotização existente e quantas vezes bem mais produtiva num portador de deficiência física que, esse sim, ao olhos do comum mortal, não cumpre, aparentemente, o estereotipo da entidade erótica como previamente definida.

Afinal, pelo que acima se pode ler, o Erotismo não é tão linear como aparenta e encontra-se, muitas vezes condicionado, mais do que por idiossincrasias, por preconceitos que limitam, que esvaziam, que defraudam o direito legítimo, desde que consensual, à erotização dos Afectos.

Acima de tudo, porque estamos a falar da Universalidade do Direito à Felicidade!

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