quarta-feira, 21 de setembro de 2016

POUPANÇAS, IMPOSTOS, MANSÕES E HIPOCRISIAS



ARMANDO FERREIRA DE SOUSA
Nos últimos dias o palco público tem vindo a ser inundado pelo ruído provocado por alguns “opinion makers” quanto ao anunciado imposto sobre o património imobiliário, cujo valor, ainda que somado, ultrapasse os 500 000 euros.

Ora, se por um lado considero que o anúncio quanto ao eventual lançamento do novo imposto não foi realizado dentro dos melhores moldes democráticos, por outro lado não posso deixar de me pasmar quando observo o debate gerado à volta deste assunto.

Esgrimem-se argumentos mais ou menos absurdos, que me fazem repensar o sentido do nosso estado, mas acima de tudosobre quem detém o controlo dos órgãos de comunicação social.

Como poderá alguém, dentro da sua liberdade de pensamento, defender que os proprietários de imóveis de valor superior a 500 000 euros, são o exemplo da classe média Portuguesa? Como é possível?

Tomemos o exemplo de um juíz que hoje em dia ganhe, em termos liquidos, cerca de 2000 euros mensais. Ora, para adquirir uma casita de classe média, avaliada pela Autoridade Tributária em 500 000 euros, esse magistrado necessita do salário de mais de 20 anos de trabalho, sem que lhe sobre dinheiro para adquirir telemóvel, carro, ou mesmo para que se alimente!

E, ainda que para tal se visse obrigado a pedir um empréstimo bancário com prazo de 40 anos, mesmo apesar do baixo nível de juros baixos, ainda assim pagaria a módica quantia de 1460 euros mensais! (http://www.uci.pt)

Será um juíz o exemplo da classe média portuguesa? Seguramente que não o será, antes fosse,, mas ainda assim, da sua profissão, dificilmente conseguirá reunir os proventos para poder comprar umas casitas nesse valor e ainda assim viver condignamente.

Por outro lado, esgrimem-se argumentos sobre a eventual quebra do investimento no imobiliário e o quão desastroso será para Portugal.

Bem, será que serei o único a recordar-me que a razão que espoletou a crise em 2008, foi precisamente a bolha imobiliária? Pois bem, parece que alguns de nós pretendem um regresso aos desastrosos investimentos de há uns anos atrás.

Serei igualmente o único que treme quando os meios de comunicação social propalam, com pesar, o facto da Mota-Engil não investir em Portugal, nem ter vontade de o fazer? Ora pois, não foram empresas como essas que, dedicada a obra públicas faraónicas e desnecessárias lucraram milhõe á custa dos nossos impostos e que fugiram logo que a torneira se fechou? Invetimento desse tipo não mais, obrigado!

Vislumbra-se pois que nos média inexiste qualquer vontade em discutir o assunto de modo sério, pois se antes os cortes em salários e pensões eram vistos como “poupanças”, hoje em dia um imposto sobre bens de luxo é visto como um ataque à poupança.

Pois bem, apercebemo-nos assim que, nos mais recentes anos, o esbulho de alguns foi realmente a poupança de outros!


“Until you realize how easily it is for your mind to be manipulated, you remain the puppet of someone else's game.” Evita Ochel

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