quarta-feira, 5 de outubro de 2016

COLÔMBIA, A REJEIÇÃO DO ACORDO

ARMANDO FERREIRA DE SOUSA
O conflito entre as forças do estado colombiano e as “Fuerzas Armadas Revolucionarias de Colombia – Ejército el Pueblo” (FARC-EP) perdura há mais de 50 anos e já conta no seu obituário com cerca de 200 000 mortes, isto para além dos milhares de desaparecidos e dos cerca de 6,6 milhões de pessoas que se viram na condição de refugiado, dentro do seu próprio país.

Contaram-se anos a fio de atrocidades cometidas de parte a parte, num rol onde constam assassinatos, violações, raptos, extorsões, roubos assim como toda uma panóplia de outros crimes cujo único limite conhecido é a maldade humana.

E se, na génese das FARC, constavam ideais mais ou menos compreensíveis, se é que a tomada das armas é compreensível, é certo que, por uma questão de sobrevivência, esta força de guerrilha se veio a associar a grupos criminosos, principalmente ligados ao narcotráfico, partilhando com estes os seus métodos e, inerentemente, os seus valores de índole criminosa.

Sem embargo recentemente, entre suspeitas de enfraquecimento das FARC, e após quatro anos de negociações, governo e guerrilheiros acordaram numa solução de paz, que culminou com o plebiscito realizado no passado domingo, dia 2 de outubro, o qual chamou o povo Colombiano a responder á seguinte pergunta:

“Apoya el acuerdo final para terminación del conflito y construcción de una paz estable y duradera?”
Contudo, o que parecia resultar numa vitória do sim, afinal acabou com uma vitória do não, certo que por reduzida margem, mas ainda assim uma vitória.

Entretanto, aqui pela nossa república, e perante a vitória do “não”, alguns comentadores e um punhado de eleitos políticos, tão certos que estavam na vitória do “sim”, presentearam-nos com momentos de perplexidade e de desnorteio, talvez motivados pela sua ignorância na História, na realidade do povo colombiano e quanto ao próprio conteúdo do acordo em causa.

Ou seja, esta vitória do “não” não poderá ser nunca entendida como uma opção pela violência e pela continuação da guerra, mas sim pela rejeição de um acordo que basicamente previa amnistias para criminosos e ainda os presenteava com lugares cativos no Senado e na Câmara, durante as próximas duas legislaturas.

Mas, acima de tudo, esta vitória do “não” foi uma vitória da democracia, do Povo, da sua vontade e da repulsa que as injustiças causam.

Foi uma vitória de quem não admite que a politica seja realizada através da violência!

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