domingo, 23 de outubro de 2016

MIRANDA DO DOURO RECEBE ALVARO GIESTA

O poema tem que ser o meteoro
que vibra
ainda que como o deslizar de uma anémona...

o poema tem que ser o incessante,

o intervalo,
o gerador doutro fluxo
sem sono nem vontade de dormir...

...tem que ser a fronteira silenciosa
e em revolta
que abre o lume,

com a força da palavra latejante
na espessura da espuma e do fogo
por nascer.

O poema é o grito na urgência da escrita!
Álvaro Giesta


TERESA ALMEIDA SUBTIL
Há uma emoção que me vem da intimidade e do envolvimento com a palavra. É que a minha história de vida passa pela profundidade das bibliotecas, como se ao entrar fosse tocada por uma vontade indomável de penetrar um mundo singular. A minha curiosidade fica espicaçada e apetece-me conhecer a pele, as entranhas, os sons das palavras e a forma como interagem. Sinto até uma ambiência musical que a cada uma pertence. Assim, considero a biblioteca um local privilegiado para dar a conhecer a obra meritória de Álvaro Giesta que, estou certa, valorizará o espaço onde a comunidade educativa a poderá tocar e sentir. Desfrutar é a palavra, porque a poesia tem ritmo e paladar, lembrando a grande Natália Correia. É um autor multifacetado, com uma grande capacidade de se ausentar do seu próprio corpo e vestir a pele do interventor, do amante, do marginal - sempre a tentar desvendar uma “luz outra”.

Sabia que não seria fácil apresentar a obra de Álvaro Giesta, mas nunca me furto a um desafio quando a luz pode surgir, qual olhar de fera a raiar a escuridão e nos faz apressar o passo e nos obriga a descobrir um caminho novo. Polémico, inquieto e inquietante, Álvaro Gesta não se coíbe a mostrar-nos os seus passos (a BIRD Magazine, uma revista online, onde por vezes escrevo, dá-nos a oportunidade de adentrar o seu pensamento). Sabemos das suas fontes de pesquisa, das suas preocupações de análise, do sentido estético, da forma como se entrega à causa da escrita, sem medos nem tabus, da capacidade e do prazer que mostra em desafiar e provocar o comentário, mesmo o contraditório - com um interesse genuíno de caminhar em conjunto, de aclarar caminhos para aportar algo de novo.

Devo dizer ainda que, debruçar-me sobre a obra deste autor, é uma forma de aprender, e é com “proua”, como se diz em mirandês, que abordarei a sua admirável poesia num ambiente adequado e aprazível, num ambiente cultural por excelência: a Biblioteca do Agrupamento de Escolas de Miranda do Douro. Outubro é o mês das bibliotecas e Álvaro Giesta, heterónimo de Fernando Reis, estará connosco, com a sua mais recente obra "Sobre o rosto do Corpo" , em 28/10/2016 - pelas 21h..

1 comentário:

  1. Pelos vistos perdeu-se o comentário anterior, aqui deixado na página/blog da BIRD, ainda usando o telemóvel pois estava desprovido, nessa altura, de computador. Não serão as mesmas palavras - estas serão mais longas - mas é a mesma intenção.
    - Surpresa, dupla e gratificante: desconhecia que sabias tanto do poeta (pelos vistos estás bem documentada) e jamais imaginei que irias tecer crónica sobre mim e o evento da próxima sexta-feira; nesta surpresa, ainda o facto do "nosso" amigo e editor Ricardo não se ter denunciado - a surpresa foi total.
    Querida amiga Teresa - roubo-te as palavras com que tu começaste o teu texto anunciando-me dia 28/10 pelas 21H00 em Miranda do Douro com o meu 8.º filho: o mais novo e o mais desejado por ter duas nacionalidades - a Portuguesa e a Castelhana, e por ser, desde o princípio ao fim "todo meu" (excepto a tradução que foi da amiga Carmen Munõz) agora dado ao público e leitor.
    "Todo meu", melhor dito, do meu sangue, porque lhe dei a palavra para viver; "todo meu", ainda melhor dito, porque no acto da criação (refiro-me a todo o processo de edição) pus todo o meu empenho e saber gráfico, quando foi abandonado por terceiros (os meus editores) que argumentaram que não tinham disponibilidade financeira para o mandarem publicar.
    Grato por dizeres de mim palavras amáveis e sábias: modéstia à parte, nelas me reconheço. Ignorar isto, era vaidade, fingir que não te entendia, era burrice. Nem de uma coisa nem de outra padeço, felizmente. Porque todo eu, agora, neste tempo de reforma, vivo para duas coisas: os netos e a pesquisa, o estudo e a divulgação da palavra a que me entrego de corpo e alma, por inteiro, neste "desafio sem medo nem tabus" (como dizes), desafiando, provocando e contrariando.
    A inquietação e a procura é um dos eixos temáticos da minha poética (que ainda agora vai no princípio e nem sei se terei tempo de lhe ver o fim). Aqui me sinto bem, aqui o "eu-poético" se questiona, questionando-se e questiona a linguagem solicitando à consciência do leitor um profundo exame. Na prosa, a de carácter mais crítico - aquela que nem sempre ajuda a fazer amigos - gosto de fazer uma inquirição aos valores do leitor, gosto de, como o moscardo, picar, incomodar com a picada incomodativa e de os levar a responder com acidez igual à minha, indicando-me caminhos outros a trilhar. É o tal "interesse genuíno de caminhar em conjunto, de aclarar caminhos para aportar algo de novo" como muito bem dizes, amiga Teresa.
    Mais uma vez a minha gratidão a ti, Teresa, pelas palavras que encorajam e ao Ricardo por publicá-las. E até sexta, dia 28 às 21H00 nessa encantadora cidade de Miranda do Douro.

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