domingo, 23 de outubro de 2016

O NORTE ESTÁ MAIS COESO... NIVELANDO POR BAIXO

MOREIRA DA SILVA
A Região Norte é a região mais exportadora, a que está em melhores condições de fazer o que país precisa, em termos de economia, que é crescer. Só que Portugal não cresce, e não é de hoje, desde o início do século que o país não tem tido crescimento económico, e há década e meia que não crescemos rigorosamente nada.

Na década de 1960-1970, Portugal cresceu 7,5% e, neste meio século, temos vindo sempre a decair no crescimento económico, a crescer cada vez menos, até chegar ao não crescimento. Em quinze anos, não crescemos nada, o que é muito grave! Há uma necessidade cada vez maior de atrair capital estrangeiro, para ajudar a nossa economia a crescer. Como o nosso tecido industrial é muito frágil, só assim é que a economia pode crescer.

Na região Norte, a evolução do poder de compra mostra um atenuar das disparidades regionais fazendo com que o Norte esteja mais coeso, mas é uma pura ilusão, pois essa coesão é se nivelarmos por baixo. É verdade que é o poder de compra, o indicador que mais atenua as disparidades, mas a Região Norte, considerando o PIB – Produto Interno Bruto, continua a ser a região mais pobre do país, quando há duas décadas era a região mais próspera, a que mais contribuía para o PIB nacional.
A ilusão de que a Região Norte está mais coesa, e está mesmo, é provocada pelo nivelamento que é feito por baixo. No PIB, o Norte (a região mais pobre, seguida pela Região Centro, tendo sido ultrapassadas pela Região do Alentejo), está com 83% da média nacional, embora no poder de compra esteja com 92%. Este diferencial tem a ver com a ação redistributiva feita pelo Estado (pensões, reformas, subsídio de desemprego, e outros). Nos últimos anos, a desigualdade que mais se agravou foi o desemprego.

Há mais de uma década, desde 2002, que os concelhos mais pobres da Região Norte recuperaram, exceto o mais pobre, o Concelho de Tabuaço. O Concelho de Murça, que apesar de ser um concelho pobre, com 62% da média da região, foi o único concelho da região que se atrasou.

Os concelhos da Área Metropolitana do Porto, os concelhos mais ricos, recuperaram muito menos e por isso é que a Região Norte está mais coesa, dentro da pobreza. Enquanto os concelhos mais pobres recuperaram, os concelhos mais ricos não. Os concelhos mais ricos da Área Metropolitana do Porto (Porto, Matosinhos, Gaia, S. João da Madeira) recuaram e ficaram menos distantes da média da Região Norte e, por isso, ficou mais coesa. É o tal nivelamento por baixo. A Área Metropolitana do Porto está mais pobre do aquilo que estava há uns anos atrás e está cada vez mais próxima das outras regiões, pelas piores razões.

O problema é grave para a Região Norte, mas também é grave para o país. É verdade que houve a crise mundial de 2008, mas enquanto a economia mundial, de 2000 a 2008, teve o ritmo de crescimento mais alto de sempre, Portugal estagnou, não cresceu nada. Para além do país ter o problema grave do não crescimento económico, também tem o problema da interiorização, o seu despovoamento e o envelhecimento.

O futuro para o país está «negro», se não houver políticas eficazes, de combate a estes flagelos económicos e sociais.

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