sexta-feira, 18 de novembro de 2016

DA MASTURBAÇÃO

MANUEL DAMAS
A Masturbação é, muito provavelmente, a prática sexual que mais vilipendiada foi ao longo dos tempos.

Mas nem sempre foi assim.

Senão vejamos…

Reportando à História, a palavra/conceito surgiu em 1898 com Henry Havelock Ellis, médico inglês e fundador da Psicologia Sexual e referia-se à manipulação dos órgãos genitais, com o intuito de obter prazer, podendo ou não ser atingido o orgasmo.

Trata-se de uma prática ancestral, havendo inclusive provas documentais, pinturas em cavernas, do Paleolítico, datadas de 10.000 A.C.

Foi, desde sempre, uma prática consensual, atingindo inclusive o estatuto de ritual sagrado em civilizações como o Antigo Egipto, em que era considerada homenagem ao Deus Atum, que teria sido o responsável pela criação do Céu e da Terra, precisamente pela masturbação.

Interessante e sujeito a reflexão, será o facto de, já no Império Romano a masturbação ser utilizada horas antes da relação sexual coital, como forma de atrasar a ejaculação.

Mas é com o advento do Cristianismo e, mais tarde, seguindo a tradição judaico cristã, que a masturbação se torna prática perseguida e posteriormente proibida. Convém não esquecer que à época era primordial a multiplicação dos judeus e, como tal, qualquer desperdício de sémen não poderia ser tolerado. Desta forma e por tais razões recebe a classificação de Pecado Contra a Natureza, com S.Tomás de Aquino, termo ainda hoje em voga em diversos sectores mais conservadores e tradicionais da Igreja Católica.

Mas é com Tissot que, em contexto médico, com o seu “Tratado sobre as doenças decorrentes do Onanismo”, a masturbação surge como entidade responsável por quase todas as doenças mundiais. Distúrbios do estômago e da digestão, perda de apetite, vómitos, náuseas, debilitação dos órgãos respiratórios, tosse, rouquidão, tremores, paralisias, impotência, eram algumas das maleitas que a masturbação causaria. Mas não só. Foram, posteriormente, acrescentadas a estas a tuberculose, a fadiga, a perda de memória, a diminuição da capacidade de concentração, a diminuição da audição, a visão distorcida, a loucura, as alterações da coluna cervical, diversas doenças de pele, incluindo mais modernamente o acne, os pelos nas mãos e uma plêiade de outras patologias. 

Estranhamente, jamais a masturbação foi associada a qualquer patologia osteo articular do pulso…

Mas como poderia a masturbação ser responsável por esta lista infindável de doenças quando e tão só utiliza os mesmos órgãos, os mesmos músculos, as mesmas artérias, as mesmas veias, os mesmos nervos que a, até então considerada, prática sexual aceitável e normal ou seja o coito convencional?

Tudo isto acerca de uma prática que a Ciência veio a considerar como fazendo parte do natural desenvolvimento psicossexual.

Acresce ser considerada, atualmente e de modo consensual, uma forma de auto conhecimento e de identificação das zonas erógenas, de erotização, de aprendizagem da resposta sexual, dos tempos e das velocidades a usar, das estratégias a utilizar…

Como se poderá proporcionar prazer a alguém se nem a si próprio se concede, se permite ou sabe conceder? 

Acresce que não se trata de uma atividade característica de uma determinada faixa etária, vulgo adolescência/juventude, como algumas correntes da Igreja Católica mais modernamente a tentam catalogar. Efetiva e definitivamente, não o é.

É uma prática de todas as idades, desde a infância até à velhice. Na primeira delas porque funciona o binómio Estímulo/Resposta tão bem estudado por Pavlov e colegas e na velhice até como forma de conservar o legítimo acesso ao prazer e estimular a auto estima em situações em que, estatisticamente comprovada, é mais habitual a solidão.

Na Sexologia é usada, inclusive, como método, através da técnica do “Stop and Go”, de controlar as situações de ejaculação precoce também designada por prematura. 

Estudos científicos recentes, maioritariamente provenientes da Austrália provam, inclusive, que a masturbação, nos Homens, previne o aparecimento do cancro da próstata.

É este, pois, o peso asfixiante dos mitos e estereótipos no que às Sexualidades e à sua vivência em plenitude concerne…

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