segunda-feira, 13 de março de 2017

CANCRO DE MAMA

MARIA CERQUEIRA
Na sociedade contemporânea, o cancro continua a ser uma das doenças mais assustadoras, essencialmente porque aparece ligada ao que é incurável, à mutilação, ao sofrimento e à morte. Apesar de todos os progressos científicos, tecnológicos e de toda a evolução dos meios de diagnóstico e terapêuticos, o cancro continua a ameaçar a vida daqueles que atinge, interferindo no seu bem-estar físico e psicológico, bem como na sua vida familiar, social e profissional. 

Falando particularmente do cancro da mama, sabemos que é uma das doenças com maior impacto na nossa sociedade, não só por ser frequente e estar associado a uma imagem de gravidade, mas também porque atinge e agride um órgão cheio de simbolismo, na maternidade e na feminilidade.

É, sem dúvida, um problema atual e preocupante ... afinal, é o corpo que molda a nossa própria existência. Hoje, o corpo e as suas representações assumem uma enorme relevância, sendo este o nosso “cartão de visita”, é natural que cada vez mais nos preocupemos com a imagem que ele nos transmite.

Neste contexto, surge a problemática da mulher com cancro da mama, que não só se vê confrontada com todos os problemas inerentes à doença oncológica mas também com todos os problemas que se relacionam com o facto de ser mulher. Por um lado, condicionada pela sua própria natureza, por outro, subordinada às regras sociais e culturais, com a influência inevitável dos papéis desempenhados na sociedade, tendo assumido o papel preponderante de esposa e mãe, como elemento mais ativo e participativo socialmente sobretudo por estar inserida no mundo do trabalho.

É nestas circunstâncias que a mulher tem de enfrentar mais um desafio, quando se depara com a realidade da doença e, sobretudo, com o diagnóstico de cancro da mama. Passa por momentos de tensão, que para além de arrastar consigo o medo, a ideia de incurabilidade, de sofrimento, de morte … arrasta sempre a terrível hipótese … de mutilação que tem sempre um grande impacto a nível relacional. Perante uma situação tão única e delicada, o enfermeiro é confrontado com a necessidade de estabelecer uma relação de ajuda com esta(s) mulher(s).

Neste contexto, é relevante todo o significado que os seios encerram, como símbolos de feminilidade, de atrativo sexual e como órgãos intervenientes nas funções de reprodução e amamentação. Nesta perspetiva, a perda do seio pode tornar-se numa das situações mais angustiantes para a mulher, podendo gerar elevados níveis de ansiedade conduzindo à depressão, dependendo muito, do significado que o seu corpo e em especial os seios têm para ela, no conceito e na imagem que tem de si própria (Burton e Watson, 1998).

Apesar de todos os receios que os tratamentos e até a mastectomia possa causar na mulher relativamente à sua aparência física, o medo do sofrimento, da recidiva e da morte podem ainda ser mais fortes, acabando por causar um grande impacto na vida familiar, na relação que estabelece com a família mais próxima nomeadamente com o companheiro. Isto será tanto mais importante quanto mais relevante for o papel desempenhado pela mulher no seio da família.

Perante as várias dimensões desta problemática, é muito importante, a equipe de saúde, entrar no seu mundo de experiências vividas, antes e após a doença, no sentido de sabermos quais os seus principais medos, angustias, necessidades e como vive a relação com o seu corpo doente. Por outro lado, interessa saber quais são os seus principais pilares de apoio ao confrontar-se com esta situação…a família e a equipe de saúde, no sentido de descobrir quais as formas mais adequadas de ajuda.

Lembro ainda, a grande necessidade de ajuda que têm por parte da família, sobretudo do marido ou companheiro, mas também a necessidade de ajuda por parte de outras mulheres com o mesmo problema e dos profissionais de saúde. A este respeito, foi relevado o muito que o enfermeiro e o médico de família pode fazer para ajudar a mulher a viver com a sua doença e com o seu corpo doente e muitas vezes mutilado, utilizando a comunicação, o apoio, a atenção dispensada, os longos diálogos, as imensas dúvidas respondidas, … Sabemos que a comunicação continua a ser um ponto crucial da prática de enfermagem, uma vez que constitui uma componente essencial de relacionamento entre enfermeiros e utentes.

A mulher jovem, atribui uma grande importância à aparência física, apresentando muitos problemas relacionados com esta dimensão do corpo. No entanto, atribui também grande importância à sua doença e à sua existência, mais até do que à sua aparência, demonstrando que os problemas com o corpo podem ir mais além dos meramente relacionados com o seu aspeto exterior. O espírito de luta, evidencia a coragem, a esperança e a determinação em continuar a viver e sobretudo, a vontade de continuar a ser mulher.

Como enfermeira e com muitos anos a lidar, quase diariamente, com doenças que quase sempre têm uma dimensão negative enorme na vida de qualquer pessoa, muitas vezes verdadeiros dramas humanos, queria apenas dizer que … tudo na vida são ensinamentos e lições … para que no futuro podemos lembrar que passaram por nós pessoas, momentos e situaçõesque nos marcaram. Acredito que nem sempre aprendemos com essas lições e esses momentos, mas, com toda a certeza, ajudar-nos-ão a crescer e a valorizar mais a Vida.
“Nunca te arrependas do que fazes...Arrepende-te sim daquilo que deixaste de fazer”.
Autor desconhecido

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