quarta-feira, 1 de novembro de 2017

UMA CASA PORTUGUESA, COM CERTEZA

RAQUEL EVANGELINA
“Estive em Portugal no Verão passado. Pessoas gentis e boa comida.” Esta foi uma das frases que me disseram neste fim-de-semana em Paris onde estive a trabalhar. Esta é a frase que sempre me dizem quando vou a qualquer lado promover o que o nosso país, em concreto o meu território, tem de melhor. A perceção que vou ganhando é que para os estrangeiros somos uns fixes. Nunca seremos sofisticados e ao nível deles mas não deixamos de ser uns porreiros. Há, claro, exceções. Há aqueles que nos olham de lado porque lhes estamos, segundo eles, a tirar o emprego. Porque para eles seremos sempre filhos da mulher de limpeza e do homem das obras, como se ganhar a vida honestamente fosse algo prestigiante. Mas de um modo geral somos bem recebidos. O nosso país está na moda. Cruzo-me com brasileiros, espanhóis, franceses, italianos até australianos, entre outros, que me dizem que visitaram o nosso país. E este turismo de hoje já não conhece apenas Porto, Lisboa e Algarve. Já conhecem o Douro, Trás-os-Montes, Coimbra, Fátima… Alguns já conhecem até Cinfães e Resende. E todos, todos, falam sempre sobre a nossa hospitalidade, gentileza e sobre a nossa comida.

A gentileza e a gastronomia são de facto dois trunfos das nossas gentes. É parte da nossa identidade. Somos um povo pequeno que se agarra com orgulho e um pouco de saudosismo ao facto de um dia termos sido donos do mundo. Queixamo-nos que não temos condições, que não há emprego, que não conseguimos construir um futuro cá mas adiamos ao máximo a ida para fora do país. E quando o fazemos sonhamos com férias para podermos regressar a casa. E emocionamo-nos com tudo o que apareça de Portugal no país que nos acolhe. Fazemos uma festa se encontramos algum português. Vibramos com a Seleção Nacional mesmo que nem sequer se ligue a futebol. E mesmo agradecidos ao país onde estamos por nos conceder melhores condições de vida há sempre uma lágrima que nos cai porque sentimos falta do colo do pai, da comida da mãe e do sol de Portugal.

Eu que nunca estive emigrada não tenho tanto esses sentimentos mas sei perfeitamente por exemplos próximos que isto tudo acontece. E que, tal como os estrangeiros são bem recebidos cá também, eu quando vou a algum lado e encontro portugueses assim que me tiram a pinta parece que já somos amigos há anos. Alguns que conheço apenas de vista da terra até ficam chateados se não for lá jantar a casa. Mas sei também que sofrem com a arrogância da gente onde moram. Que são olhados de lado, que por vezes não têm as mesmas oportunidades e que não se sentem inseridos no seu novo ambiente. E que nessas horas mais complicadas faz falta um amigo e a família. Faz falta uma casa portuguesa onde a mesa é sempre grande e cabe sempre mais um. Faz falta um arrozinho de forno ao domingo. Faz falta até as perguntas impertinentes da tia, que todos temos, sobre quando é que casamos. Faz falta um bailarico a ouvir o Quim Barreiros, mesmo que até sejamos dados ao jazz e não saibamos cantar mais nada a não ser: “Eu sou o mestre da Culinária e sei enfeitar a travessa…”.

O nosso país é bonito que ninguém duvide disso. E as pessoas são maioritariamente boas. Somos um pouco mesquinhos com o vizinho mas na hora de ajudar estamos todos prontos. Independentemente de serem conhecidos ou estrangeiros. Somos empáticos. E acreditamos até prova em contrário nas pessoas. Albergamos pessoas que praticamente não conhecemos e não as deixamos passar fome. “Coma, coma. Não vá dizer como da outra vez que lhe deixei passar fome!” Damos as indicações na rua e se for perto até vamos com eles. Queremos mostrar o que há de melhor na nossa zona. Indicamos o melhor restaurante e sugerimos o que não podem deixar de comer. E apesar de por vezes nos cruzarmos com pessoas não tão simpáticas mostramos sempre o nosso sorriso. Até podemos ser pequenos, podemos ser inexistentes para uns e um anexo de Espanha para outros mas somos bons. Somos simpáticos e acolhedores. Somos bons cozinheiros e bons comedores também. E acima de tudo orgulhosos das nossas origens.

E em qualquer lugar do mundo que haja um português haverá boa comida. Haverá um convívio de domingo à tarde seja na margem do Sena ou no Hyde Park. Haverá sempre um churrasco. Haverá sempre aquele tinto ou branco que a uma altura os porá a cantar o “Apita o comboio”, o “Vira” e até o Hino. E acreditem que se há coisa que me arrepia é ouvir a emoção com que os portugueses emigrados cantam e vibram com o hino fora de Portugal. Haverá sempre simpatia e lugar para mais um. Haverá sempre uma casa portuguesa… Com certeza!

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