quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

O DIÁLOGO COMO ATITUDE

SARA MAGALHÃES
Com a iluminação, tudo é da mesma família. Sem a iluminação, tudo está separado de tudo.
(poema chinês séc. XIII)

O encontro e o diálogo inter-religioso implicam, antes de tudo, uma atitude integral de respeito pelo outro.

Como defendeu bem esta causa, Mahatma Gandhi afirmando:

“Não me compete, a mim, criticar as Escrituras das várias religiões, ou assinalar os seus defeitos. Mas o meu privilégio é, e deveria ser, proclamar e praticar as verdades que elas contêm. Não devo criticar ou condenar as questões do Corão ou sobre a vida de Maomé, a qual não posso entender, senão que devo aproveitar todas as oportunidades que me apresentam para expressar a minha admiração pelos aspetos da sua vida que sou capaz de apreciar e compreender. Perante as questões que apresentam dificuldades, tenho de as ver através de olhos de amigos meus muçulmanos e ao mesmo tempo, tento entendê-las com ajuda de especialistas que comentam o Islão. Unicamente, através de tal aproximação reverente a outras crenças diferentes das minhas, posso assim, praticar o princípio da igualdade de todas as religiões. Ao mesmo tempo, é meu direito e dever assinalar os defeitos do Hinduismo para o purificar e mantê-lo puro. Não obstante, quando um não-hindú critica indiscriminadamente, passando uma lista de todos os seus defeitos, não faz mais do que pôr em evidência a sua própria ignorância e a sua incapacidade de se situar sob o ponto de vista hindú. O seu ponto de vista é distorcido e o seu juízo viciado. Assim, a minha experiencia é que todas as críticas de não-hindús sobre o Hinduísmo ajudam-me a descobrir as limitações da minha religião e também me ensinam a ser prudente, antes de me lançar em críticas sobre o Islão ou o Cristianismo e os seus fundadores.”
Esta postura manifestada por Gandhi é de um respeito radical pelo outro, diante do qual não se exclui nem se absorve, mas onde acontece um acolhimento reverencial.

Parto também da convicção de que o outro não é um incómodo, mas sim um benção para mim, porque me complementa. O outro que se manifesta diante de mim é diferente porque tem uma identidade. E para que exista enriquecimento no encontro, cada parte deve aproximar-se a partir do que o outro é em si mesmo. 

O problema da falta de diálogo está na identidade daquele que contém exclusivamente elementos de autoafirmação e narcisismo absoluto. Não basta apenas questioná-lo, mas sim estar constantemente a purificar as questões, tendo como guia a abertura e o acolhimento do outro que é “diferente” de mim mesma.

Mas o respeito pela alteridade não consiste apenas em suportar educadamente a diferença, mas sim chegar a ter a convicção de que toda a diferença é uma bênção para todos e que esta diferença traz consigo um valor teologal, no sentido que me permita aproximar-me mais da humanidade e de Deus. 

Todas as religiões são chamadas a promover em conjunto a paz e a justiça no mundo, não apenas com palavras, mas principalmente pela forma que se relaciona com a humanidade inteira.


“O sofrimento do nosso país tem sido profundo.
Deste sofrimento surge uma grande ternura.
A ternura transmite paz ao coração.
Um coração pacífico transmite paz ao ser humano.
Um ser pacífico coloca paz na sua família.
Uma família pacífica coloca paz numa comunidade.
Uma comunidade pacífica coloca paz numa nação.

Uma nação pacífica põe paz no mundo.” (Monge Budista)

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