sexta-feira, 24 de julho de 2015

QUANDO FORES GRANDE, O QUE QUERES SER?

GABRIEL VILAS BOAS
Normalmente, isto queria dizer Que profissão gostarias de ter quando fores adulto? Cada um falaria dos seus gostos profissionais, tendo em conta as suas aptidões, o prazer que determinada tarefa lhe suscitaria e… o retorno financeiro dessa profissão. Nas últimas décadas secámos tanto e tão cedo os nossos sonhos que a maioria das respostas seria: “Aquela que me der mais dinheiro e fama!”.
No entanto, a famosa pergunta encerra outra questão, mais subtil, mas que também vale a pena discutir: O meu projeto de vida é a minha profissão?

“O que queres SER…?” tem que ser muito mais que uma profissão, porque somos Pessoa e o trabalho é só um instrumento e não um fim. Todavia, desde crianças somos condicionados a construir uma identidade através do trabalho. De uma maneira sub-reptícia ou declaradamente, procuram engavetar a nossa vida no espartilho de uma profissão, especialmente no caso de termos algumas qualidades profissionais que nos aconselham determinada opção.

O problema é que não estamos preparados para contrariar este paradigma na altura devida, porque, raramente ou só muito tarde, pensamos no que somos e no que queremos de nós, como um todo.
Quando a mecanização da ditadura do trabalho nos desumanizou, quase por completo, de tal maneira que deixou de haver amigos, percebemos, claramente, que não queríamos ser nada daquilo em que nos tornámos.

E então sofremos! Sofremos muitíssimo, porque nos dirão que a escolha foi nossa. E, na verdade, foi… e não foi, porque, neste mundo tão diverso e tão democrático, só havia uma escolha. Desde as primeiras conversas em família às opções escolares.

Ninguém pergunta na escola ou em casa: “Olha lá rapaz, que tipo de pessoa queres tu ser?” Se esta pergunta fosse feita a uma criança ou a um adolescente ou até a um jovem adulto, em 90% dos casos, o interlocutor gaguejaria, surpreendido. 

E há tanto para ser além do tradicional e esperado “Quero ser boa pessoa! Quero ser feliz!”

Quero ser tolerante, decidido, audaz, fraterno, simpático, paciente, trabalhador… E cada um poderia ir construindo a sua personalidade a partir dos seus valores de base. Seria uma escolha sua e consciente, onde a profissão se haveria de enquadrar, mas nunca impor.

Provavelmente evitaríamos interrogações angustiadas do género “Quem sou eu fora do trabalho?”, por volta dos quarenta. Saberíamos que somos o projeto de vida que quisemos ser, que não nos conhecem apenas pela profissão, porque o trabalho que exercemos é só o trabalho que exercemos.

Então as pessoas que cruzarem a nossa vida apreciarão as nossas qualidades profissionais, intelectuais e físicas do mesmo modo que valorizarão as nossas qualidades pessoais. Nessa altura seremos grandes, como estava destinado a ser, e seremos a Pessoa que quisemos ser.

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