quarta-feira, 2 de setembro de 2015

SETE DIAS EM PARIS. DIÁRIO. DIA 3# (#Musée Du Louvre #Musée D’Orsay)

Muita cultura, muita loucura.
Família Borges Lopes

Neste dia, fizemos todos os percursos a pé. E como é belo passear a pé pelas ruas de Paris!
De manhã, fomos ao Louvre. As minhas filhas estavam ansiosas por ver os livros de História e de Literatura ao vivo; ver aquilo que apenas tinham observado em fotografias e imaginado através das tantas leituras inspiradas neste lugar de culto. 
As pirâmides e os edifícios são imponentes sob qualquer ponto de vista.
Uma pequena e fila, e “volià!”, estamos no Louvre! Livres e soltos, no Louvre. Podemos ir para onde quisermos, escolher salas, subir, descer… livremente. O que não é assim tão bom, como, mais à frente, passarei a expor.

O museu é fantástico, muito grande, com muita variedade de obras. O Louvre é de uma dimensão abismal.
Nós levamos mapa e guia do museu, e sabíamos exactamente onde queríamos ir, o que queríamos ver. Mas depressa percebemos que os visitantes são literalmente despejados no museu. No museu de dimensões abismais. E gera-se uma confusão tão grande, com pessoas a andar em todos os sentidos, a usar como entrada e saída as mesmas portas – aleatoriamente – que quem não vai com o museu (leia-se “salas”, “percursos”) estudado, não tira dali grande proveito.

Acho mal que um museu desta fama e dimensão não tenha percursos traçados, obrigatórios, com atalhos naturalmente, para que o visitante possa fazer as suas escolhas (as salas que pretende visitar e as que pretende “saltar”). Como acontece na maior parte dos museus e galerias em Portugal. As visitas seriam, certamente, muito mais calmas, sem atropelamentos, nem cotoveladas.

Os chineses e os japoneses: são verdadeiramente impressionantes no comportamento. No mau sentido.
Aqui reside uma imensa loucura, uma loucura difícil de entender: a correria, a desorientação, a loucura da fotografia e da selfie (mas mais da normal fotografia, ainda que à pressa e mal tirada, de tudo o que lhes aparece à frente do nariz). Os chineses e os japoneses não respeitam filas, não respeitam os lugares ou as pessoas; normalmente andam em grupo e assumem um comportamento de lamentar. Quem achar o contrário, que me diga. Sei lá, deve ser da vida agitada que levam, da correria do dia-a-dia, de serem empurrados à pressa para dentro dos comboios lotados e do metro, para caberem ainda mais uns quantos lá dentro. Não é possível explicar-vos como se comportam na sala da Mona Lisa. É de se bradar aos céus. Não é à toa que a pobre Gioconda observa cada um em cada posição da sala, seguindo-nos com o olhar. Tem de olhar pela sua vidinha, não vá um louco partir a redoma de protecção e fazer alguma asneira. 

A minha filha mais nova ficou indignada. Disse: “Parece um jogo. Parece que estão a participar numa corrida. Parece que têm de chegar (onde?) à frente dos outros”. Note-se, por exemplo, que há muitos que se posicionam à nossa frente quando estamos a observar uma obra de arte.

Nota-se que, tal como nós conhecemos mal a deles, estes povos conhecem mal a nossa cultura. Vêm à procura do que vêem nos livros e nos postais ilustrados, e não apreciam mais nada. São capazes de fotografar um chão sem qualquer valor histórico ou cultural, só porque viram um ocidental cabisbaixo; e não são capazes de detectar o mais valioso chão que estão a pisar, se não estiverem alertados para isso.

Há muitos relatos de chineses que vandalizam monumentos. Fala-se, até, em síndrome japonesa e chinesa, “doença” devida ao choque provocado pelo contraste entre o imaginado e o real. Dá para acreditar? Ao que dizem, os médicos já estão preparados para o atendimento dos infelizes turistas que são acometidos de sintomas estranhos provocados pela diferença entre cidade imaginada e a real.

Sabe-se também que as atitudes desordeiras ou desrespeitosas por parte de turistas chineses aumentaram nos últimos anos, tendo contribuído para uma generalização da ideia de que os chineses são “pouco educados” e têm falta de “cultura e sofisticação”. Não podemos esquecer que viajar, até há bem pouco tempo, não fazia parte da rotina do povo chinês, estando, agora, ao alcance de mais carteiras. Haja paciência. Tudo leva o seu tempo a tomar um lugar próprio. Quanto aos japoneses, que são conhecidos como um povo educado, julgo que é tudo falta de hábito. E tudo se resolverá com o tempo. Certamente.

Estes são alguns dos relatos que li, na pequena pesquisa que fez nos media, para não sentir que esta minha opinião era isolada: “Alguns casos de mau comportamento de turistas chineses tornaram-se célebres, como o do jovem que escreveu o seu nome num templo egípcio de Luxor com mais de 3500 anos, ou o da mulher que arremessou uma taça de água quente a uma hospedeira, por não gostar do lugar onde estava sentada, ou o do homem que abriu a porta de emergência do avião para “sair mais depressa””.

Observações à parte – tudo concorre para o enriquecimento da viagem, porque tudo deve funcionar como um ensinamento – é, de facto, maravilhoso poder contemplar tanta arte reunida; além dos edifícios imponentes, sóbrio e belos; as caminhadas ao longo da Seine; as varandas floridas; e almoçar num típico restaurante francês e sermos atendidos com uma imensa simpatia. Sim, porque os franceses, malgrado muitos comentários que tenho vindo a ler e ouvir, são muito educados e atenciosos.

Nunca tinha ido ao Musée D’Orsay, nenhum de nós tinha ido. A entrada faz-se com imediata satisfação e deleite. Instalado numa antiga estação ferroviária construída em 1900, a transformação da estação em museu foi feita respeitando a arquitetura original e valorizando o grande hall central, eixo principal do percurso dos visitantes. O museu mostra a criação artística ocidental de 1848 a 1914, com pintura e escultura, de artistas como Cezanne, Courbet, Degas, Manet, Monet, Renoir, Klint, Munch, Maillol, Rodin, Camille Claudel, Giacometti. E ainda um interessante acervo de mobiliário, deco e design.

Para mim, foi o regresso à infância: tantas vezes, sonhei com as bailarinas de Degas, tantas e tantas, ao som de “Claire de Lune”, de Debussy.
Ó, que perfeição, ó infância, minha vida! Tenho de dar graças, por ter sido abençoada com estas possibilidades.

Aspectos positivos: É sempre bom passear a pé pelas ruas de Paris. O privilégio de contemplar obras de arte únicas no mundo. A simpatia dos parisienses.

Aspectos negativos: os museus deveriam ter um traçado obrigatório, com atalhos naturalmente, para que o visitante possa fazer as suas escolhas (as salas que pretende visitar e as que pretende “saltar”), de forma a que as visitas possam ser feitas com a devida calma.

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