sexta-feira, 27 de novembro de 2015

«OS ANJOS DE PEDRA», NOVO LIVRO DE ANABELA BORGES APRESENTADO EM AMARANTE


Pormenor da mesa de apresentação
Narrativa evoca a história de amor entre Dom Pedro e Inês de Castro, com interlúdios de «Os Lusíadas», de Luiz de Camões.  

Pela voz do editor Luiz Pires Dos Reys e do poeta e crítico literário José Emílio-Nelson, a obra veio a lume, no passado dia 21 de Novembro, na Biblioteca Municipal Albano Sardoeira.


Trata-se de uma narrativa de inspiração inesiana, que desfia uma sequência de solilóquios de Inês de Castro e de Camões (que, como se sabe, tratou o tema n' «Os Lusíadas») e que, à beleza do modo de dizer antigo, associa o olhar do homem dos nossos dias.
Uma pequena obra que não é uma obra pequena.

As imagens da capa e contra-capa da obra reproduzem trabalhos do pintor Paulo Damião
[cortesia da galeria de arte Trema-Arte Contemporânea]”.

EDIÇÕES SEM NOME

ANABELA BORGES
AS PALAVRAS DA AUTORA

Trata-se de uma narrativa a duas vozes (a de Camões e da própria Inês) sobre a mui nobre e grandiosa (segundo muitos crêem, única no mundo) rainha póstuma, Inês de Castro. É uma obra que me é muito cara, já que a tenho escrita há quase três anos e só agora (depois de apreciá-la, cuidá-la, ‘ouvi-la’) me decidi a publicá-la.

Mais do que um momento solene, para mim, a apresentação de cada nova obra é um momento de gáudio e de festa, por poder contar com o apoio de conterrâneos, amigos e família.
É imensa a honra de ver esta obra publicada pelas Edições Sem Nome, pela mão do seu editor Luiz Pires Dos Reys, que apostou nela de uma forma singular. Eu não poderia ter encontrado melhores incentivos do que aqueles que me foram apresentados, desde o primeiro ao último sopro do livro, da primeira à última palavra do livro que agora tendes em mãos.
 
Capa do livro
Não é fácil falar sobre o processo de criação desta obra em particular.
Eu quis escrever uma história de amor. E não me foi dado ver outra que superasse a de Pedro e Inês, tão abordada em todos os géneros literários, cantada por tempos imemoriais, e nunca esgotada.
Mais afirmo que não tenho qualquer pretensão de que este livro seja classificado de narrativa histórica. Desenganem-se os que assim pensarem, pois esta é uma narrativa puramente ficcional e ficcionada.
Como referia atrás, quis escrever uma história de amor. Precisei de auxílio – aquilo que muitos designarão de inspiração, ou se fosse na voz do Poeta “o engenho e arte”. De facto, foi este Poeta, o próprio Luiz Vaz de Camões, que veio em meu auxílio. O episódio lírico de Inês de Castro (Canto III, est. 120 a 136 de «Os Lusíadas») é talvez aforma mais sublimada de cantar esta forma de amor que ultrapassou vozes, paredes, atravessou o próprio tempo, e, cuidando de derrubar um reino, ultrapassou a própria morte. Camões analisa este Amor, eleva-o com a paixão dos poetas, condena-o com a indignação que as circunstâncias lhe provocaram. Por essa razão, por ser o amor tão generoso e tão cruel, o próprio poeta condena-o, na epopeia, como “áspero e tirano”, que quer suas “aras banhar em sangue humano”. Veio Camões em meu auxílio para ser um dos narradores de «OS ANJOS DE PEDRA». É o que dá os poetas serem esternos.
Camões surge, assim, na minha obra como comentador-observador, como testemunha desse amor que tantos quiseram calar, mas que nenhuma voz conseguiu silenciar, pois por tempos imemoriais, se cantarão os amores de Pedro e Inês.
 
Pormenor do auditório da Biblioteca Albano Sardeira
Depois, há a voz de Inês. Pode dizer-se que é uma voz que ecoa fortemente em mim. É uma voz que me fala e muito me diz. Eu transformei também a voz de Inês em narradora.
A Inês de Castro que vos trago nesta obra é a mulher que talvez apenas possa ser inteiramente compreendida pelas mulheres, mulher frágil e determinada, angustiada e intuitiva, sacrificada, subjugada, impotente, apaixonada. “Nunca me foi dado saber que tivesse o destino assim fadado, senão agora, guardada que trago a meninice a um canto da memória. Vejo-me menina, numa infância roubada em obrigações, num caminho que fiz tão longo da Galícia para aqui, para vir servir tua esposa, para ser das aias a mais bela – a tua eleita.” (passagem da obra «OS ANJOS DE PEDRA»).

A minha pretensão última, isso sim, é que esta obra constitua um louvor à Rainha Póstuma, Inês de Portugal – na voz de Camões: 
O caso triste e digno de memória,
Que do sepulcro os homens desenterra,
Aconteceu da mísera e mesquinha
Que despois de ser morta foi rainha”.
– Na voz de «OS ANJOS DE PEDRA»:
Deitados frente a frente, olhos nos olhos, para o dia do juízo final, podereis sentir, Pedro e Inês, como é o poder dos anjos, pois que aos anjos é dado assistir na vida e na morte, estátuas em túmulos, anjos de pedra – pois que assim seja.
Serás rainha, Dona Inês, como sempre desejou o teu amado – pois que seja feita a sua vontade, post mortem”.


Para terminar, faço votos de que, no fim das contas, no fim de cada caminho, encontremos sempre o amor.

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