terça-feira, 12 de julho de 2016

A ESCOLHA DO ANIMAL DE ESTIMAÇÃO

ELISABETE SALRETA
Porque temos animais de estimação e porque escolhemos este ou aquele?

Comigo foram as circunstâncias que os trouxeram até mim, embora confesso, tenho uma predilecção por gatos. A sua sensualidade é artística.

Facto é que eles fazem-nos bem. Falando de gatos. São verdadeiros caçadores e verdadeiras máquinas fatais. Apesar de nas casas modernas não terem a necessidade de caçar, a não ser do prato e de pedinchar umas guloseimas, não perdem as características da sua raça. As suas brincadeiras, a maneira como se espreguiçam, como andam, as contas que efectuam antes de saltar de um móvel para o sofá, a ginástica que fazem a lavarem-se, espelham bem as suas capacidades e o facto de estarem sempre prontos, caso seja necessário. Basta ver como um gato persegue uma mosca e não demora a apanhá-la de um só golpe. Cuidamos deles e educamo-los para serem eternas crianças, mas eles trabalham arduamente em troca da nossa atenção, cuidando de nós sem nos darmos conta. Basta ler sobre os benefícios de ter um gato. Isotéricos, transmutam a nossa energia. E nem damos conta!

Estes gatos são muito delicados. A partir das 6 da manha, começa o dia para eles.

A expectativa é de um acordar doce, como se vê nos anúncios em que o gato dá lambidinhas no tutor ou afaga-o suavemente com a pata.

Pois, isso é de anúncio. Aqui por casa não se passa assim. O acordar é com dois gatos à briga na minha cama, usando as minhas pernas como abrigo e trampolim para o chão. Imagino um deles a levantar-se para ir à cozinha e pisar o outro. É assim o nosso despertar. Ao fim de semana, quando não lhes ligo nenhuma, desistem das brigas, dos bufos e (imagino só o que se chamam um ao outro), das rosnadelas e chapadas, acabando com um gato com a “bunda” em cima da minha cara. Depois…, depois é ver quem chega primeiro à casa de banho e sobe para o lavatório para ir beber água da torneira.

A Blue Sofia é uma verdadeira senhora. Gosta de ser admirada e faz por isso. Mas tal como as senhoras, tem uma atracção especial por malas, especialmente das visitas. Cheira ao pormenor e tenta pôr-se lá dentro. Desde que caiba aquele belo assento, a gata tem de lá estar alguns segundos. Quando está na fase do cheira, como lhe chamo, ninguém lhe pode tocar. Aquela botija está sempre a postos e pronta a trabalhar mostrando uns belos dentes brancos, tal e qual um vampiro. Também gosta de por a “pata” na cozinha. Ajuda na limpeza dos legumes quando estão em água. Remexe-os como se os lavasse. E escolhe-os. Se algum fica preso às unhas, é descartado. Vira inspectora quando lavo a loiça, pois está atenta a cada movimento e fica até que a última gota de água vá pelo ralo. Se algo fica no lava-loiça, prontifica se a retirar com a pata. Procede amiudadas vezes à “limpeza” do lavatório, bidé e banheira esfregando fervorosamente, como se estivesse a escavar um buraco. Esquece-se de limpar as patas antes desse serviço e as loiças ficam um pouco manchadas e com pelos. Uma questão de pormenor.

É uma defensora dos bons costumes. Fui a um jantar de aniversário onde comemos sardinhas e bebi cerveja. Chegando a casa, subiu por mim a cima e veio cheirar a minha boca, olhando para mim muito sério. Parecia dizer – Humana, trocaste a minha companhia tão selecta por esse degredo? Traidora! Cheiraram a minha roupa para saber todos os pormenores da minha ausência.

Ainda com toda a sua pose, passa por um rolo de papel higiénico que anda pelo chão da casa de banho. Agarra-o com os dentes e dá aso à sua fúria, tentando esventra-lo com as garras das patas traseiras. Depois, num segundo dá um salto e volta a ser uma lady, olhando o rolo meio despedaçado pelo canto do olho e com um certo desdém.

Óscar é o anfitrião perfeito. Senta-se ao lado das visitas e olha-as atentamente, escutando tudo o que dizem.

Encosta-se a mim durante a noite, ficando muitas vezes esticado ao longo das minhas costas ou enroscado na dobra da perna. Quando assim é, a Blue fica em cima de mim, nas minhas costelas. Por vezes o calor é tanto que tenho de os por a correr, mas basta que adormeça para que voltem aos seus locais preferidos.

À hora da sesta esticam as suas belas e roliças pernas, abrindo os pés para arejar, mostrando que o descanso é sagrado. Quando o gato está a dormir, o mundo pára. Mesmo aqui, não deixam de ser sensuais e de trabalhar muito para despertar todo o nosso amor por eles.

Depois, O Óscar acorda carente. Como qualquer menino, que é, gosta de ficar mimado ao colinho da “mãe”. Dá beijinhos, esfrega-se e ronrona como um motor. Pisca os olhos, dá festinhas e brinca com o cabelo. Deliciado, deixa-se ficar assim de barriga para cima, esbanjando charme. Até que vê a Blue no chão e salta para cima dela para mais uma briga. Afinal, o exercício é muito importante. E lá começa mais uma correria pela casa a fora numa perseguição desenfreada de onde nem os tapetes escapam. As corridas passam pelos parapeitos das janelas, sanefas, sofás, móveis, mesmo os mais altos, cama da tutora e banheira. Acaba invariavelmente com dois gatos deitados no chão da sala, ofegantes.

A banheira é um bom local de brincadeiras se tiverem uma noz ou um caroço de pêssego. Fazem-no rolar até se fatigarem. De preferência às 4 da manhã com todo o prédio a dormir…

Tendo um gato, nunca se está só. Nem nos momentos mais privados onde fazem tanta questão em nos observar.

Ainda dizem que um gato não tem préstimo algum!

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