sábado, 9 de julho de 2016

ABRAM ALAS À FASE CHARLIE!

HELENA COUTINHO
A temperatura subiu e o risco, também. De dia ou de noite, já nem os animais se sentem seguros, nas suas casernas feitas de feno ressequido, sujeitas à devoração inesperada e esfomeada de um Adamastor chamado fogo. Alguns senhores deixaram de ter força para cuidar das suas terras, outros deixaram de ter um pé-de-meia para pagar a quem as limpe, e outros, simplesmente, deixaram de ter respeito pela lei e pelos outros. Da noite para o dia, as matas parecem agigantar-se, “sem rei nem roque”, mas é oficial: começou a fase Charlie!

Enquanto meio país ainda se entretém com o campeonato europeu de futebol e outro meio tenta manter oxigenado o campeonato económico-social, as equipas convocadas para defrontar o Adamastor das florestas já se encontram em manobras de aquecimento, na fase mais temida – a fase Charlie. Confiantes e equipados a rigor, com fatos rotulados como “hiper, mega especiais”, os soldados da paz encheram, de novo, os quartéis com a vida e a cor que esmorecem nos meses de Inverno. Sob a batuta de vários treinadores (oficiais, amadores e de bancada), estudam-se as melhores tácticas de defesa e de ataque, afinam-se maquinarias e o pensamento, sem perder a fé na compaixão de S. Marçal, o padroeiro protector da seleção nacional de bombeiros. Em todos os jogos disputados contra o perigo, o ponta-de-lança escolhido chama-se sorte. Doravante, a subir ou a descer montes, homens e mulheres medirão forças contra o mais certo do incerto, como se jogassem de quinas ao peito, com a garra animal do Rei Eusébio e a ânsia de vencer dos inspiradores e saudosos Magriços.

Ano após ano, esta seleção continua a defender as cores da natureza e da pátria, com o mesmo amor à camisola que Cristiano, Quaresma, Sanches e restante equipa. Ano após ano, o hino dos que envergam um equipamento azul e vermelho é tocado pela sirene e afinado pela arte e engenho da boa vontade humana. Ano após ano, continuam a arriscar-se fileiras de gente, em nome de múltiplos interesses camuflados. Ano após ano, várias famílias ficam órfãs de pai tempo ou de mãe alegria, em batalhas frequentemente inglórias. A principal diferença é que este campeonato continua a ser pago a preço de tostões e, por norma, os adeptos só se lembram de apoiar a equipa depois de massacrada ou devorada pelo Adamastor…

Heróis da floresta, nobre povo, obrigada!
Portugal sem fogos, em frente, marche!

Sem comentários:

Enviar um comentário