terça-feira, 26 de julho de 2016

O IMPÉRIO [DESPORTIVO] E NÃO SÓ

RUI CANOSSA
As conquistas nacionais dos últimos tempos no campo desportivo puseram-me a pensar. Somos um país fantástico, com tanto realizado nos últimos anos em várias áreas, nichos de excelência, quer pública, quer privada. Mas do ponto de vista global, a nossa posição está muito longe da soma de todos esses pontos positivos.

De facto, temos a marca de papel premium mais vendida em todo o mundo, líderes mundiais e, rolas de cortiça, exportamos o segundo calçado mais caro do mundo. Temos uma das cinco melhores marcas de colchões do mundo, temos o maior construtor mundial de caiaques. O ano passado a Wine Spectator colocou cinco vinhos portugueses entre os melhores do mundo. Somos os maiores produtores de fios agrícolas. Somos líderes ibéricos no fabrico de parafusos e na preparação de frutas para a indústria de laticínios. Somos líderes mundiais como fornecedores de malas para computadores pessoais. Detemos 75% do mercado de autoidentificação. Inventámos a Via Verde, o cartão de telemóvel pré pago e o sistema multibanco integrado. Somos líderes mundiais no fabrico de ferramentas de corte de alta precisão. Temos o segundo grupo mundial na produção e comercialização de azeite. Somos os principais fornecedores de sistemas informáticos de gestão para os caminhos-de-ferro europeus. Temos o maior transportador rodoviário da Península Ibérica. Temos uma empresa líder europeia de produtos sanitários em aço inoxidável para hospitais. Estamos no top3 de produtores de chapéus de feltro. Somos o maior fabricante de sofás da Península Ibérica. A mais antiga empresa de conservas da Europa é portuguesa. 75% dos autorrádios que se vendem na Europa são produzidos em Portugal. O passaporte eletrónico europeu tem tecnologia de identificação portuguesa. Apesar das queixas, o nosso Serviço Nacional de Saúde é dos melhores do mundo. O nosso sistema de acesso dos cidadãos aos serviços do Estado por via eletrónica tem sido alvo de sucessivos prémios. Os meus amigos alemães não queriam acreditar que os nossos miúdos tinham o primeiro portátil do mundo concebido especialmente para crianças! Há empresas portuguesas que fornecem materiais e tecnologia para a NASA e ESA. Tivemos um prémio Nobel da Literatura e um presidente da Comissão Europeia e o Ronaldo vai ganhar a sua quarta bola de ouro.


Podia estar aqui um bom bocado se me fosse lembrando de mais e isso aumenta a surpresa. Como é que podemos ter sucesso em tantas áreas de atividade e sermos mal sucedidos à escala global? Como pudemos massificar a educação, mestrados e doutoramentos e termos tão pouca dessa gente nas empresas? Falando de outro prémio Nobel agora da economia, já falecido, Douglass North defendia que os países mais desenvolvidos são aqueles onde as instituições funcionam bem. Penso que é esse o nosso calcanhar de Aquiles. Fazer com que as instituições, todas elas, privadas e públicas, com e sem fins lucrativos, pode ser de facto o ponto de viragem para que sejamos um país bem sucedido à escala global.

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