sábado, 10 de setembro de 2016

A MINÚCIA QUE SE TORNOU O AMOR

DIOGO VASCONCELOS
Espúrio, pérfido, falso, interesseiro. É assim o amor de hoje. A paixão sempre foi fugaz, mas nos dias que correm ela vai e vem numa correria estonteante. Não existe “Tempo”. Sim, “Tempo”, a sedução, o erotismo passou a pornografia. Corpos são entregues à coscuvilhice alheia, cada traço, forma, curva é exposta para o mundo ver. Assim é difícil alguém se apaixonar. Não existe motivo para a “Conquista”, já tudo foi despejado nas redes sociais, já tudo foi mostrado. Falta a “Magia”, o mundo está virado ao contrário. Primeiro conheces o corpo, todas as suas posições irradiadas pelos raios solar numa praia ou numa piscina, depois conheces a “Pessoa”, a sua história, as suas raízes, os seus valores, crenças, objetivos…

Hoje as pessoas são indulgentes, perdoam tudo numa relação, não se dão ao respeito e quando o exigem não têm moralidade para tal. Querem ser constantemente aduladas por várias pessoas, não chega uma. Mesmo quando assumem relações sérias, lá no fundo querem ser alvo de atenção assaz, levando-os a ser desonestos com o parceiro. Posso estar a ser atingido pela retórica da vetustez, da velhice, ou então a ter um ataque de escárnio pela espécie humana. O aviltamento é algo muito feio, pessoas ecléticas não cativam. Ninguém procura o vulgar, mas ao ser só se pode atrair a mesma espécie.

É tão bom olhar nos olhos de alguém e ver para lá da aparência, descobrir mundos paralelos, deixar o silêncio ditar o caminho, a cumplicidade brotar. Ficar absorta, extasiado com as qualidades e defeitos da pessoa especial. O amor não é perene, ele acaba, a ideia que o amor é eterno é um mito, mas também é iníquo para ele tornar-se transiente. Ele merece mais de nós e nós merecemos mais dele, não o podemos tornar numa frivolidade. Se o fizermos perdemos a essência da nossa existência, perdemos a oportunidade de ter aquele friozinho na barriga tão bom, tão especial, tão forte, capaz de superar a força de Moisés nos seus tempos áureos.

Sinto falta de me apaixonar, mas lá no fundo não me culpo, não encontro ninguém que me proporcione a volúpia de uma boa conversa, alguém que me faça querer descobri-la, que seja diáfana, transparente, que não seja séquita e queira ser diferente, especial, mostrar que o mundo é composto por várias cores, várias tonalidades de prazer e não apenas o carnal.

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