sábado, 12 de novembro de 2016

LAGOA DO FOGO: ONDE A MORTE E A VIDA SE FUNDEM



LAGOA DO FOGO

CARLA LIMA
A Lagoa do Fogo é uma das maiores lagoas dos Açores e a segunda maior da Ilha de São Miguel.

A caldeira vulcânica, tal como o vulcão, que lhe deu forma, é a mais jovem da Ilha de São Miguel e ter-se-á formado há cerca de 15 000 anos. A sua configuração actual é resultado do último colapso, tido como importante e que ocorreu no topo do vulcão, há aproximadamente 5 mil anos. A última erupção data de 1563.

Esta cratera vulcânica dá forma ao grande maciço vulcânico da Serra de Água de Pau, também sendo conhecido como vulcão de Água de Pau. A Lagoa do Fogo, é também a mais alta da Ilha de São Miguel, facto que se deve a se encontrar no cimo de uma montanha, cujo ponto mais alto se eleva a 949 metros.

A área é classificada desde 1974 como Reserva Natural. Actualmente com uma área protegida de 5,07 km2, a Lagoa do Fogo, situa-se numa posição central da Ilha de São Miguel. A caldeira vulcânica, onde se encontra a lagoa, corresponde ao colapso da cratera do estrato-vulcão do fogo. As encostas são íngremes e cobertas de mato natural, com flora endémica em abundância e diversificada. A água da lagoa alimenta algumas nascentes localizadas nas vertentes. Apesar do afastamento do mar, nidificam na área, garajau-comum e gaivota-de-patas-amarelas.

Pode-se descer até à lagoa. A descida leva de uma a duas horas. Existem uns trilhos e umas escadas para ajudar mas convêm ir preparado psicologicamente de que não vai ser uma “aventura” fácil.

Mas depois de chegarmos lá abaixo, compensa pelo silêncio e pela imensidão da beleza. Sendo a lagoa mais alta da Ilha de São Miguel tem muitas vezes neblina ou nevoeiro que impedem a sua descida. Mas se conseguirmos descer e olharmos para cima parece que estamos a ser esmagados pelo céu, o que dá uma sensação de pequenez mas ao mesmo tempo de adrenalina. Sentimos que somos um pontinho no mundo mas que, simultaneamente, fazemos parte de algo extraordinariamente belo. Sentimo-nos vivos.

Mas nem só de beleza e vida se faz a Lagoa do Fogo. Infelizmente, a neblina que paira muitas vezes sobre a Lagoa também “esconde” morte e tragédia.

A erupção vulcânica iniciou-se a 29 de Junho de 1563, sendo precedida de pelo menos cinco dias de violentos sismos que provocaram uma enorme destruição na Ilha de São Miguel. A actividade foi de extrema violência, cessando a 3 de Julho, não sem ter causado muitas mortes. As emissões eram projectadas a uma altura tal que eram visíveis do Grupo Central, a cerca de 200 km de distância. Há uma lenda que diz que o ilhéu de Vila Franca do Campo é resultado de uma dessas projecções…

Como curiosidade, no dia 12 de Outubro de 1968, despenhou-se um avião Beechcraft B55 numa encosta do Pico da Barrosa, a cerca de 50 metros da estrada que se debruça sobre a Lagoa de Fogo. Era pilotado por um jovem francês de 21 anos, Marc Philipp Fraissinet, que teve morte instantânea. Como homenagem dos seus familiares e amigos, encontra-se no local uma lápide em azulejo regional com uma hélice torcida, que pertencia ao avião, e uma cruz feita em basalto.

Mas não se deixem intimidar por este ar mais sinistro da Lagoa do Fogo. Até há quem aprecie. Se vierem a São Miguel não deixem de visitar esta Lagoa. É uma experiência única e é um sentir a ilha no seu aspecto mais virgem. A subida da Serra é vertiginosa. Os miradouros e as vistas são de tirar o fôlego. E quando finalmente chegamos ao topo e vemos a Lagoa, mesmo cansados, só nos apetece descer até lá baixo, lavarmos a alma com um mergulho nas águas místicas da Lagoa e deixarmo-nos levar por aquele silêncio que tantos segredos esconde…

“Onde vos retiver a beleza de um lugar, há um Deus, que vos indica o caminho do espírito.”
Natália Correia

Sem comentários:

Enviar um comentário