sábado, 4 de novembro de 2017

EM QUE PÉ ESTÁ A IGUALDADE? IMPACTOS, DESAFIOS E CONFLITOS

TIAGO CORAIS
Apesar de estar no Reino Unido continuo a acompanhar com alguma frequência a actividade da Fundação Francisco Manuel dos Santos que tem debatido temas tão pertinentes, futuristas e com grande profundidade. Até digo mais, esta Fundação tem feito um trabalho tão meritório que não fica nada atrás dos melhores “Think Tank” dos Países mais desenvolvidos do Mundo, quer na disponibilização de dados, estudos e literatura, como também na organização de conferências de grande qualidade.

No passado 30 de Setembro, a Fundação Francisco Manuel dos Santos organizou uma conferência com o mote: “EM QUE PÉ ESTÁ A IGUALDADE?”, disponibilizando a maior parte das palestras no seu canal de Youtube, ao qual aconselho vivamente a os visualizarem.

A discussão do tema da IGUALDADE poderá assustar muita gente, mas é um tema muito pertinente nos dias de hoje. Nos dias de hoje vejo a discussão mais ao menos generalizada na perspectiva da tecnologia e seus benefícios, mesmo no seio do Partido Socialista, mas não vejo de forma tão vigorosa tratarem das suas consequências e sobre a IGUALDADE. Como foi abordado no painel “GLOBALIZAÇÃO E TECNOLOGIA”, a nova fase da Globalização em conjunto com o desenvolvimento tecnológico, irá afectar não só o sector primário, mas principalmente o sector terciário e dos serviços. Se são boas notícias que se perspectiva que as DESIGUALADES entre Países poderá diminuir, as más notícias é que a DESIGUALDADE entre cidadãos do mesmo País serão maiores e a classe média será a mais afectada, levando ao enfraquecimento das nossas DEMOCRACIAS, que irei abordar num próximo artigo.

Sinceramente eu sou um grande entusiasta do conhecimento e pelo progresso tecnológico, mas temos que estar sensíveis que muitas vezes a tecnologia evolui muito mais rápido do que a nossa capacidade de adaptação e que se por um lado beneficia em muitos casos as nossas vidas, existem também alguns perdedores. Nunca podemos ser a favor do Progresso se não tivermos em conta os valores HUMANISTAS. Uma sociedade que fala em robots e esquece-se de falar nos HUMANOS, é uma sociedade que está a perder o NORTE. 

A BBC2 exibiu um documentário intitulado “Secrets Of Silicon Valley”, que mostra a face da outra moeda sobre a forma romântica como Sillicon Valley promete construir um MUNDO MELHOR e transformam as novas vidas, mas alguns pagam um preço muito alto. Um dos exemplo dados, de muitos que são apresentados neste programa de dois episódios foi sobre como a Airbnb tornou mais acessível para um grande número de pessoas viajar e visitar mais locais em toda a parte do Mundo, mas como isso também está a expulsar os habitantes dos centros das cidades. Basta fazer uma pesquisa no site da Airbnb e procurar em Dublin, Londres e Barcelona, para percebermos que existem investidores que compras casas nos centros dessas cidades para alugá-las a turistas em vez de alugá-las a residentes, pois em três quatro dias os turistas pagam a renda de um mês de um residente. Como isto é o mercado a funcionar, as rendas e as casas tornam-se inacessíveis aos que vivem nestas cidades e naturalmente sem darmos por isso são expulsos para os subúrbios. No meu entender não devemos ser contra o turismo, mas é preciso que se regule de forma a que haja um balanceamento entre quem quer conhecer outras culturas e quem quer viver nestas cidades.

Outro exemplo abordado, foi sobre a UBER e mais precisamente na Índia. A empresa UBER convenceu muitos taxista a comprarem carros a crédito, ajudando na entrada e garantindo rendimentos mensais, sendo que depois não lhes pagava o prometido pelos seus serviços e desta forma deixam de ter capacidade para pagar os créditos. A pressão da “escravatura” da dívida levou-os a terem vidas piores do que as que tinham, a angustia, a ansiedade invade-os e alguns para resolver a sua situação decidiram terminar as suas vidas. Apesar de serem histórias com fins extremos, não podemos deixar de ter a noção que a tecnologia, a globalização e a mudança exclui sempre alguns da sociedade e por isso é importante que existam mecanismo que se não eliminam esta situação, pelo menos minimizem. 

Richard Baldwin, orador na Conferência “EM QUE PÉ ESTÁ A IGUALDADE?”, deu uma entrevista muito esclarecedora sobre os efeitos sobre a Globalização e a Tecnologia. Ele refere <<(...) o próprio conceito de globalização assenta no favorecimento dos sectores mais competitivos, ao mesmo tempo que afasta as pessoas dos sectores menos competitivos (...) Mas os ganhos de uns superam as perdas de outros, e com as medidas certas a nível nacional todos podem progredir. (...) O progresso está exactamente na transferência de recursos dos sectores menos competitivos para os mais competitivos. Sempre foi assim, simplesmente isso ocorre agora de maneira mais rápida e mais óbvia. >> Ele também defendeu que a solução está <<assente numa espécie de contrato social, pelo qual quando se perde o emprego — seja devido à globalização, à automação, à idade ou a mudanças climáticas, o que seja — o Estado e a sociedade têm a obrigação de ajudar o trabalhador a ajustar-se à nova realidade. (...) todos estão na mesma “equipa”, vencedores e vencidos.

Numa sociedade do conhecimento intensivo, a aposta na educação quer por parte do Estado, quer por parte das Empresas e do Cidadão são essenciais, mas também não nos podemos esquecer que num mundo cada vez mais competitivo em termos Globais, existirão também aqueles que não beneficiarão muito com as novas tecnologias e a Globalização, bem pelo contrário a esses temos a responsabilidade colectiva de encontrarmos uma forma de também eles saírem a ganhar com o PROGRESSO. É fundamental que a nível GLOBAL não deixemos que a GLOBALIZAÇÃO, O CONHECIMENTO E A TECNOLOGIA não favoreçam apenas as elites, mas seja capaz de construir uma SOCIEDADE COESA E PROGRESSISTA.

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