quarta-feira, 10 de janeiro de 2018

NOVO ANO, NOVOS DESAFIOS PARA A EUROPA

RUI MANUEL SANTOS
Sendo esta a minha primeira crónica do ano, decidi abordar alguns dos temas que mais relevância irão ter durante 2018 na Europa. Em primeiro lugar destaco a importância das conversações que vão ocorrer na Alemanha, entre os dias 7 e 11 deste mês, entre os democratas-cristãos da CDU, os socialistas do SPD e os sociais-cristãos bávaros da CSU, tendo em vista a formação de um novo governo alemão resultante das eleições de Setembro de 2017, onde a CDU foi o partido mais votado. Depois do fracasso das negociações realizadas entre a CDU, os Verdes e os democratas-liberais do FDP, o tempo começou a correr mais rápido para Angela Merkel, a líder da CDU. O país que tem assumido os destinos da Europa nos últimos anos não pode continuar a viver este impasse governativo.

Em França, Emmanuel Macron quer ser um reformista e produzir um discurso europeu que sirva de alternativa a uma eventual perda de liderança, e protagonismo, da Alemanha no contexto da Europa. Além disso, tem procurado ganhar relevância internacional, por exemplo, ao servir de mediador entre o Líbano e a Arábia Saudita, países que estão em rota de colisão no Médio Oriente. No entanto, mais de metade dos franceses, de acordo com as últimas sondagens, não apoia as suas políticas. Alterações laborais e a intenção do Estado francês despedir 120 mil funcionários públicos fazem com que a agitação social em França seja cada vez mais crescente. Se Macron falhar na presidência francesa, o caminho está mais aberto para Marine Le Pen chegar nas próximas eleições ao Palácio do Eliseu. Isso não seriam boas notícias para a Europa.

Na Espanha a situação resultante das eleições na Catalunha permanece confusa. Qual a coligação governamental que os unionistas do Ciudadanos, partido vencedor nas eleições regionais de Dezembro último, irá formar é uma incógnita pois os partidos independentistas são a maioria no parlamento catalão. Os independentistas pedem agora diálogo depois de terem proclamado, e suspendido imediatamente, a independência da Catalunha. Será que os seus apoiantes aceitarão algo menos que a independência? E se essa se vier a confirmar (apostaria mais num modelo federativo) como irá reagir a UE?

Por sua vez, a Polónia e a Roménia estão prestes a sofrer sanções por parte da União Europeia (UE), algo que aconteceria pela primeira vez. Caso se verifiquem, a aplicação das sanções poderá abrir fracturas entre os países membros da UE. Na Polónia, o motivo dos avisos por parte de Bruxelas prende-se com a intromissão do poder executivo no poder judicial, uma ingerência governamental que contraria o princípio da separação de poderes e o espírito democrático existente na UE. Na Roménia, é a legislação relativa ao jogo online que suscita a advertência por parte da Comissão Europeia. Estas medidas podem ser encaradas como uma provocação daqueles países à UE. Por detrás de toda esta polémica está um sentimento anti-europeu alimentado por governos populistas que encontram terreno fértil para se implantarem nos países do leste europeu. Como é que este braço-de-ferro entre aqueles países e a UE vai terminar é uma incógnita. Creio que acabarão por ceder às exigências de Bruxelas mas tal facto irá ser utilizado pelos populistas europeus como uma arma na sua luta contra a UE. Aguardemos o desenrolar desta situação preocupante para a Europa.

Por falar em populismo, 2018 será um ano para manter atenção redobrada na Áustria, país da UE que tem agora um governo de coligação liderado pelo democrata-cristão Sebastian Kurz e que inclui o partido de extrema-direita austríaco. Kurz recusou formar a tradicional coligação que o seu partido, ÖVP (democrata-cristão), fazia com o SPÖ (socialista). Preferiu escolher os nacionalistas do FPÖ e tornou a Áustria o único país onde a extrema-direita está no governo. Além disso, Kurz entregou ao FPÖ três importantes ministérios: Interior, Defesa e Negócios Estrangeiros. Qual o impacto que vai ter na Europa o governo de Sebastian Kurz? E como irá a Áustria exercer a sua Presidência do Conselho da EU, entre Julho e Dezembro deste ano, tendo no governo um partido anti-europeu, como é o caso do FPÖ?

Muitas outras questões relativas ao futuro imediato da Europa poderiam ter sido referidas, como por exemplo a questão dos refugiados que continuam a atravessar o Mar Mediterrâneo à procura de protecção e do El Dorado que julgam existir na Europa. No entanto, creio que elenquei algumas que serão determinantes para o Velho Continente e que estarão na «ordem do dia» durante 2018. Que se resolvam a bem dos valores democráticos e do respeito pelo Outro, elementos essenciais de uma Europa que se quer que volte a ser o farol do mundo.

Bom ano!

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