quarta-feira, 31 de janeiro de 2018

O AMOR NÃO É O DIA 14

RAQUEL EVANGELINA
Da próxima vez que a minha crónica sair será, em princípio, mesmo na mouche no dia dos namorados. E para não estragar o dia com o meu romantismo exagerado (já vos disse que sou irónica?) despacho já este assunto hoje. O que significa o dia para mim? Nada. Absolutamente nada. Podem achar que isto é conversa de solteirona ressabiada mas não é. Podia ser mas não, não é. Eu explico o porquê de não me dizer nada. Gosto de receber presentes? Gosto. Gosto de dar presentes? Também. Aliás confesso que até me dá um certo gozo a ver a cara da pessoa quando é surpreendida com algo que não estava à espera. E isto vale para namorados, amigos e familiares. Gosto bastante de pensar no que oferecer, de preferência algo diferente e de ver a reação da pessoa que não estava nada à espera. Agora é obrigatório ser no dia 14? Não. Não é muito melhor receber algo inesperado num dia que supostamente não tem nada de especial para ser comemorado? Uma mulher não se sente mais valorizada quando num dia qualquer tem um presente à espera que a faz ver que a pessoa se lembrou dela sem ser num dia que a televisão, as ruas e toda a gente nos lembra que somos “obrigados” a oferecer algo? Peço desculpa a todas aquelas pessoas lamechas que neste dia só vêm corações. Não tenho nada contra elas… Juro! Mas para mim o amor não é isso.

O amor não é o urso de peluche com aquele coração enorme a dizer “I love you”. O amor não é ir jantar fora naquele dia porque toda a gente vai e também temos que ir. O amor não é declarações lamechas em textos de metro e meio nas redes sociais com foto fofinha e depois andar a mandar mensagens ao jeitoso ou à jeitosa que temos como amigos virtuais a ver se quer tomar café connosco. O amor não é o consumismo exagerado que nos entra pelos olhos dentro nas próximas duas semanas na publicidade da TV e nas montras das lojas. O amor é outra coisa.

O amor é estar juntos quando tudo corre bem mas principalmente quando as coisas correm mal. É olhar para uma pessoa, perceber os defeitos dela e mesmo assim não a querer trocar por alguém que, aparentemente, nos parece melhor. É querer muito abraçar alguém e no minuto seguinte só apetecer dar-lhe uma bofetada porque nos irritou. (Vá isto pode ser agravado por eu ser de um signo bipolar). É ficarmos contentes e orgulhosos com as vitórias da pessoa e tentar dar ânimo quando as derrotas o desanimarem. É saber que um “Fica bem” e um “Cuida-te” vale mais que todos os corações a dizer I love you que são oferecidos. (Aliás alguém me explica em que tipo de decoração numa casa de uma pessoa adulta é que aquilo fica bem?). E acima de tudo o amor não é algo que se é manifestado a 14 de Fevereiro. Se querem manifestar nesse dia óptimo. Mas é para continuar ao longo dos tempos. Não é dar um presente nesse dia, ir jantar fora e depois andar a faltar ao respeito, desprezar e não mimar ao longo dos outros 364 dias.

Acreditem que não tenho nada contra o dia. A sério que não. Tenho é contra a ideia de que neste dia é que deve ser tudo dito, que se deve parecer bonito e o resto dos dias que se lixe. Já passei dia dos namorados solteira, já passei dia dos namorados a namorar. As vezes que fui jantar fora foi com amigas. O que até tem a sua piada porque quando somos só duas passamos por casal. Qual a diferença? Nenhuma. Nunca recebi rosas nesse dia, fora desse dia já. Até gosto de flores mas são presentes que não duram. É irónico no dia do amor receber algo que passado uns tempos murcha não? È que se nos dá para interpretar o presente como a metáfora do sentimento da pessoa deprimimos…

Agora a sério. Amem, amem muito. Querem oferecer rosas, ofereçam. Querem fazer textos de metro e meio e propagar ao mundo o quanto gostam de alguém façam. Querem oferecer ursos pirosos mas extremamente românticos ofereçam. Mas façam disso um ato recorrente. Não façam disso apenas a celebração do São Valentim. E se não há cara-metade para celebrar o amor não se preocupem. Há amigos, há família e acima de há aquele amor bastante importante… o amor próprio! Portanto celebrem o amor. É importante que ele seja celebrado. Mas façam-no sempre.

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