sexta-feira, 26 de janeiro de 2018

SUPERNANNY- UMA REFLEXÃO

LUÍS PINHEIRO
Depois de ter ponderado bastante sobre escrever uma crónica sobre este programa de televisão acabei por decidir faze-lo. Se por um lado, escrever sobre o tema dá força ao seu mediatismo, por outro, não refletir sobre ele faz com que sejamos todos coniventes com esta realidade. Esta reflexão não se focará na metodologia de trabalho da psicóloga, mas sim nas outras dimensões que este programa coloca em causa. O primeiro ponto que quero salientar é o superior interesse da criança, com uma exposição deste nível estamos realmente a preservar a identidade das crianças, o seu direito ao não escrutínio público, á transformação da sua esfera pessoal numa esfera pública? A meu ver não, pelo contrário, estamos a catalogar estas crianças, a tornar público o seu comportamento menos adaptativo como se fosse uma serie ou um filme, o respeito pela autonomia e a preservação da intimidade das crianças têm de ser um dos objetivos mais importantes numa sociedade.

O segundo ponto importante neste programa é a exposição dos pais, indo por partes, nos episódios já exibidos vemos famílias destruturadas e disfuncionais que vêm o programa como uma única saída para a resolução dos seus problemas. Explorar a dor, a falta de conhecimento, e de capacidade parental por um canal de televisão parece-me ser algo desumano e totalmente não ético, e indo um bocadinho mais longe, nota-se claramente a agenda sensacionalista que está a destronar o bom jornalismo no nosso país.

O paradigma atual das televisões está cada vez mais selvagem, onde é cada vez mais importante, chocar, chamar a atenção, levantar um descontentamento geral do que realmente trazer os assuntos e discuti-los de forma séria e responsável.

E para finalizar esta breve reflexão, quero acrescentar a importância de se discutir a parentalidade nos dias de hoje, os desafios que os pais passam. A parentalidade é uma área de conhecimento, assim sendo, a formação e a mudança são cada vez mais importantes. Mas mais importante do que discutir por discutir é a criação de uma discussão séria sobre o assunto, sem o objetivo de criar choque, mas com o objetivo de discutir coletivamente um dos maiores desafios da atualidade, criar uma próxima geração, que em termos de valores seja melhor que a nossa.

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