terça-feira, 6 de fevereiro de 2018

ESTREITO SENTIR

INÊS LOPES
Todos (já) nos sentimos perdidos. Talvez porque sentir seja isto... tão de ontem e tão de hoje ao mesmo tempo. Porque ninguém se sentiu perdido. Todos estamos perdidos hoje. Por mais estabilidade que encontremos nas mais diversas vertentes, há sempre um lado mais desmontado. Há sempre uma complicação, um pequeno desvio que ocorre no nosso enquadramento tão alinhado do dia a dia.

Às vezes tudo parece exagerado. O quão complicada nós fazemos a vida, ou o quão complicados ela nos faz a nós. Flutuamos num oceano, sujeitos a tempestades, afogamentos, que nos fazem enfrentar a escuridão repentina após um dia tão sólido e claro. Perdemos os sentidos e o piso onde todos os dias nos costumávamos sentar com tanta serenidade.

Tudo complica.

Por vezes, embrenhados nessa complicação, lembramo-nos de parar por um momento e olhar para algo diferente daquilo que está sempre a puxar os nossos olhos para longe, longe, longe.... basta olhar o céu e todas as suas tonalidades onde nos derretemos por um breve segundo, para sentirmos a liberdade que se esconde debaixo da areia profunda onde chegamos quase sem fôlego. E, do nada, tudo é muito mais simples. Tudo muda no instante mais improvável. E saímos do nosso corpo. Da nossa vida. E, quando saímos, vemos onde estamos claramente. E sentimos. Sentimos a escuridão que já sentimos, e sentimos as tonalidades claras que se evolam agora em nós.

Porque sentir é isto. Apesar do quão perdidos andemos por aqui... É quando sentimos tudo o que (já) sentimos. 

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