quarta-feira, 7 de fevereiro de 2018

LA BELLA ITALIA

RUI MANUEL SANTOS
As eleições legislativas italianas de 4 de Março vão mostrar a insatisfação dos italianos para com o governo socialista, e dar a maioria dos votos aos populistas do Movimento 5 Estrelas. Todas as sondagens referem aquela será a força política mais votada, com um resultado situado no intervalo 26%-29%. O seu candidato Luigi di Maio, tem procurado atrair eleitores do centro-direita, e da direita, projectando uma imagem de credibilidade que não tem dado frutos até ao momento. Mesmo o recuo relativamente à intenção de referendar a permanência da Itália na Zona-Euro não obteve os resultados esperados junto do eleitorado a que se dirigia. Este esforço realizado por di Maio prende-se com o facto de com a votação prevista, o Movimento 5 Estrelas não ter uma maioria absoluta e não conseguir formar governo pois não há quem coligar-se com ele. Tal situação poderia favorecer o segundo partido nas intenções de voto dos italianos, o Partido Democrático actualmente no poder, mas não é isso que se prevê olhando para as sondagens.

De acordo com os diversos estudos de opinião, os socialistas italianos do Partido Democrático, liderados por Matteo Renzi, deverão obter o segundo lugar no escrutínio com uma votação localizada no intervalo 22%-25%. Paolo Gentiloni, o democrata que actualmente preside ao governo, não irá continuar à frente do executivo no Palazzo Chigi. Certamente que o facto de Matteo Renzi voltar a ser o candidato socialista a governar o país não é bem visto por muitos eleitores. Recorde-se que Renzi abandonou o governo italiano no final de 2016, após perder um referendo sobre alterações à Constituição que rege a Itália. Nem a melhoria da economia é suficiente para guindar o Partido Democrático à vitória eleitoral. A imagem de Renzi que a grande parte da esquerda italiana tem não é muito boa. Considerado por muitos como alguém extremamente ambicioso, e por vezes arrogante, algumas das suas políticas económicas e financeiras são entendidas por alguns sectores «à esquerda da esquerda» como sendo «demasiado capitalistas», pró-globalização e muito próximas dos interesses da alta finança e do «grande capital». A somar a tudo isto, a incapacidade do Partido Democrático para atrair eleitorado jovem é aproveitada por partidos à sua direita, nomeadamente a Forza Itália e o Movimento 5 Estrelas. A coligação de centro-esquerda que poderia formar não chega para obter a maioria parlamentar. A técnica usada pelos socialistas portugueses para chegar ao governo, a denominada «geringonça», não é possível de ser replicada pelos socialistas italianos.

É neste cenário que Silvio Berlusconi regressa como provável líder da coligação de centro-direita, aquela que impedirá que o poder caia nas mãos dos populistas do Movimento 5, e líder do novo governo transalpino. Contudo, não é certo que possa assumir os destinos do novo governo italiano pois foi condenado em 2013 a 7 anos de prisão e à proibição vitalícia de exercer cargos públicos. Berlusconi aguarda o resultado do recurso judicial que apresentou no Tribunal Europeu alegando a ilegalidade da sentença. Nas sondagens, a Forza Itália aparece como terceira força política mais votada (15%-18%), sendo aquela que poderá conseguir criar uma maioria parlamentar. Esta seria uma «geringonça» em que os terceiros mais votados assumiriam o destino político de Itália.

A coligação que a Forza Itália poderá fazer é com partidos cujos ideais não são compatíveis com a democracia e os valores europeus: a Liga Norte (populistas, separatistas, eurocépticos, anti-imigração e globalização) e Irmãos de Itália (nacionalista e eurocépticos). Os democratas-cristãos do Nós com a Itália poderiam ser também chamados a integrar a coligação, caso fossem imprescindíveis para assegurar a maioria parlamentar, situação que pode não ser necessária. Para agradar a estes possíveis parceiros de coligação pós-eleitoral, Berlusconi comprometeu-se a expulsar do país 600 mil imigrantes… que na sua quase totalidade correspondem a refugiados pelas mais diversas causas. Isso poderá ter um efeito de contaminação em outros países, nomeadamente em França, onde a extrema-direita está cada vez mais perto de conquistar o poder. Recorde-se que foi um elemento da Liga Norte, Luca Traini, o autor dos disparos efectuados no dia 3 de Fevereiro sobre imigrantes africanos na cidade de Macerata. Ao que tudo indica, estes disparos foram feitos como retaliação pela morte de uma italiana cujo corpo foi posteriormente desmembrado. O suspeito é pelo bárbaro acto é um migrante nigeriano a quem foi negado asilo político em 2017 e permaneceu de forma ilegal em Itália. Na sequência deste ataque, o líder da Liga Norte, Matteo Salvini, distanciou-se do mesmo ao mesmo tempo que sublinhava que a Itália confronta-se com uma «invasão de migrantes» e que está prestes a eclodir um «choque social».

É ainda prematuro afirmar se vai ser possível o estabelecimento de uma coligação, ou se terão que ser marcadas novas eleições legislativas. A Itália pode estar à beira de continuar na instabilidade governativa que caracteriza o país após a Segunda Guerra Mundial: 42 governos em 72 anos. Isso não é bom para a Itália nem para a Europa, mas parece que é assim que os italianos gostam de viver. De qualquer forma, olho com grande preocupação para a situação que pode vir a ser desenhada após 4 de Março. Um eixo Viena-Roma poderá juntar-se ao denominado Grupo de Visegrado (Polónia, Hungria, República Checa e Eslováquia) e iniciar uma contaminação da democracia e dos ideais europeus consubstanciados na União Europeia e que permitem que a Europa viva em paz desde 1945.

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