quinta-feira, 1 de fevereiro de 2018

SILÊNCIO NA ERA DO RUÍDO

ARTUR COIMBRA
É o título de um belo livro de Erling Kagge, nascido em 1963, um dos grandes aventureiros e exploradores do nosso tempo, tendo sido a primeira pessoa a atingir, sozinha, o Polo Sul, após uma travessia solitária da Antárctida (sem comunicações) durante 50 dias.

Tinha já chegado também ao Polo Norte, viajando cerca de 800 quilómetros pelo gelo do Árctico, sem qualquer apoio exterior. Em 1994, subiu ao Evereste, tornando-se a primeira pessoa a chegar aos “três polos”.

Foi advogado, estudo filosofia e fundou uma editora na Noruega. É autor de cinco livros sobre as suas viagens e os seus desafios polares, além de um outro sobre os caminhos subterrâneos de Nova Iorque.

A biografia deste autor explica e fundamenta este livro originalmente publicado em 2016 (traduzido para Portugal no ano passado), em que o silêncio é o leitmotiv, quer o silêncio que nos rodeia, quer o nosso silêncio interior.

O silêncio na era do ruído é uma obra que procura responder a três interrogações fundamentais: O que é o silêncio? Onde é que se encontra? Por que razão é agora mais importante do que era dantes?

Da Antárctida diz que “é o lugar mais silencioso” onde esteve e poetiza: “absolutamente só, naquela imensidão gelada, imerso no grande nada branco, podia ouvir e sentir o silêncio”.

O silêncio pode ser maçador, desconfortável, ameaçador, solitário, triste, pesado, agressivo, dependendo dos momentos e das circunstâncias em que cada um se encontra. Mas pode ser também uma presença amiga, uma necessidade, um consolo, uma fonte de enriquecimento interior: “o silêncio que descansa como um passarinho na palma das nossas mãos”.

Escreve Erling Kagge:

“Durante milhares de anos, indivíduos que viviam na solidão, sem ninguém à sua roda – tais como monges no alto das montanhas, eremitas, marinheiros, pastores e exploradores de regresso a casa – estavam profundamente convictos de que a resposta aos mistérios da vida se pode encontrar no silêncio”.

Lembra, justamente, que Jesus e Buda resolveram aventurar-se em direcção ao silêncio, de forma a perceber como deveriam viver. Jesus foi para o deserto e Buda para a montanha e para perto do rio. Em silêncio, Jesus preparou-se para encontrar Deus. O silêncio, o indizível, a divindade, a eternidade.

Vivemos na era do ruído, rodeados de sons, de música, concertos, televisão, aparelhagens de todo o género, telefones, cafés, bares, centrais de camionagem, mercados, ruas, automóveis. Confusão, agressão, violência.

O silêncio é uma ilha no meio do barulho ensurdecedor do quotidiano. Quase em vias de extinção, sem dúvida, por culpa de todos nós. Até do matraquear das teclas do computador que utilizamos a cada momento no trabalho ou no lazer.

O silêncio pode estar em qualquer lugar, a qualquer momento, à nossa frente.

Saibamos recuperá-lo e vivê-lo, como necessidade para a sobrevivência da sanidade interior.

Saibamos inventar o nosso próprio silêncio, o nosso interior, a nossa casa!

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