terça-feira, 13 de março de 2018

VEÍCULOS AUTÓNOMOS - A ÉTICA E A ECONOMIA

RUI CANOSSA
Hoje vou falar-vos de uma paixão. Desde pequenino que sou apaixonado por carros. Se perguntarem à minha mãe ela dirá que o Porsche 911 sempre foi uma loucura. Para mim, como muitos outros que partilham a mesma paixão, um carro é muito mais que um meio de locomoção. O prazer de conduzir um carro de mudanças manuais por uma estrada sinuosa…

Mas, e os carros autónomos? No futuro, não tão longínquo, os carros vão andar sozinhos! E o prazer de condução? E a questão ética? É sobre esta última que quero falar. As questões éticas são um dos grandes problemas para a implementação da condução autónoma. Haverá situações que a máquina terá de decidir questões éticas. Senão vejamos. A condução autónoma vai poder prevenir 90% dos acidentes evitando colisões, o que implica a decisão em casos em que a colisão não pode ser evitada. Há a possibilidade teórica de serem os carros autónomos a decidir quem irão proteger quando estão vidas em risco. E aqui entra o argumento ético. Estas questões estão já a ser tidas em conta por esse mundo fora. As decisões dos veículos autónomos terão de ser programadas. O objetivo é, quando não conseguirem evitar a colisão, reduzir o impacto em termos de lesões. Em 2017, a comissão de ética da Alemanha, definiu já as seguintes hierarquias: A proteção da vida humana é prioridade absoluta em caso de um acidente que não se consegue evitar; a proteção de animais tem prioridade sobre bens materiais; a destruição material estará sempre no fim da lista de prioridades. Mas e se duas ou mais vidas estiverem em jogo?

Vou colocar o problema do elétrico. Considere o seguinte cenário. Um elétrico está em rota de colisão com 5 pessoas. Você pode, opção 1, não fazer nada e deixar morrer 5 pessoas, opção 2, mudar o curso e matar uma pessoa. Qual é, em termos éticos e morais, a escolha correta? Uma visão ética dirá para não fazer nada. A decisão é focada nas ações: matar é pior do que deixar morrer. Uma visão prática dirá mudar o curso do elétrico. A decisão é focada em consequências: o maior bem para o maior número de pessoas, ou minimização do prejuízo. A questão é: Queremos programar as máquinas para terem esta visão prática?

Considere agora que você é o ocupante de um veículo autónomo em rota de colisão com 10 peões. O veículo sacrifica um peão para salvar para salvar 10, você incluído. Mas e se o veículo sacrificar o condutor, mandando o carro contra uma parede para salvar 10? As duas decisões encaixam na visão prática, ou seja, salvar o maior número de pessoas, mas quem deve o veículo proteger? Não é o condutor? Ou é o peão?

Pois é. Um estudo publicado na revista Science mostrava que quando colocados perante este dilema, 76% dos inquiridos defenderam que o carro deveria o peão em detrimento do condutor mas, quando questionados se comprariam um carro que defendesse primeiro o peão e depois o ocupante, a mesma maioria disse que não.

Espero ter contribuído de alguma forma para o esclarecimento deste assunto que tem sido cada vez mais falado nos meios de comunicação social, apesar das inúmeras vantagens que os carros autónomos têm, como por exemplo, a possibilidade de as pessoas trabalharem enquanto se deslocam.

Mais, estamos perante uma mudança de conceito, de modelos de negócio e inovação tecnológica brutal, que poderá gerar receitas 7 vezes superiores à atual faturação do setor automóvel que passará de 1.3 biliões de euros para 10 biliões, um valor muito apetecível para quem arrisque ficar de fora.

Quanto a mim, vou continuar a conduzir o meu carro a diesel com velocidades manuais e com nove anos.

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